Um velório inesperado

Nos anos 80 não existia essa variedade de opções recreativas que temos hoje, como WhatsApp, aplicativos de namoro, streemers de filmes, etc, nesse tempo, nossas dificuldades eram outras e as exigências também.

Nessa época, a academia não se fazia necessária, gastávamos bastante energia nas atividades diárias, para se namorar era preciso sair de casa, assistir a um filme exigia-se uma ida ao cinema ou a ida uma locadora, para atualizar-se dos assuntos e fofocas era necessário adentrar-se a alguma roda de conversa fiada e, nada melhor, para isso, era quando havia alguma festinha na vizinhança, mesmo sem sermos convidado, ou, nem mesmo conhecer direito os donos da casa, a gente, ao observar uma muvuca em frente a uma casa qualquer, íamos chegando e entrando.

Já estávamos muito mal acostumados, eu, Juquinha e Tião, ao percebermos qualquer indício de festa em algum canto do bairro, logo nos preparávamos, íamos convictos, a gente já chegava entrando, na cara dura, para não dar bandeira.

Um inusitado me ocorreu certo dia, ao perceber uma muvuca na rua de trás, não encontrando meus comparsas, decidi ir só, no caminho, já ia salivando ao imaginar os comes e bebes deliciosos daquela bonita, ajeitei a gola, lambi a mão e alisei o cabelo, fui chegando e entrando, onde, geralmente, fica uma mesa com um bolo, de fato, tinha uma mesa com um enorme caixão e seu defunto, assustado, ainda consegui dar um passo atrás, mas, a velha viuva chorosa foi mais rápida, se agarrou em meu pescoço, me abraçou apertado e demorou para soltar-me. Nesse dia, mesmo sem conhecer o morto, derramei uma lágrima.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 29/03/2024
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