Entre sem Bater - Ordem de Inteligência

Thomas Buckle disse:

"... homens e mulheres classificam-se em três classes, ou ordens de inteligência ..."(1)

Thomas Buckle é daqueles caras que viveu pouco tempo, mas "causou" entre seus pares, inimigos, detratores e apoiadores. O inglês era historiador e se houvesse apoio e compreensão para o seu trabalho e linha de raciocínio seria um "gênio" para muitos. A inteligência de Buckle estava, com toda a certeza, muito acima e adiante do seu tempo. Por outro lado, as adversidades dos intelectuais que ele enfrentou, atualmente, provocariam a morte mais prematura dele.

INTELIGÊNCIA

Em primeiro lugar, devemos ressaltar que a inteligência é um conceito subjetivo e que não possui uma medição exata, é variável. Certamente, a forma como as pessoas se comunicam e expressam suas ideias pode variar muito dependendo do local e interlocutores. Inquestionavelmente, é o mesmo que jogar "pérolas aos porcos"(*) como disse Mateus (o da Bíblia), desperdiçarmos nosso conhecimento com os tolos.

Desse modo, é compreensível que alguns leitores, com açodamento constante, queiram logo acusar o mensageiro de arrogante(2). Esta atitude é, sem dúvida, o primeiro sinal indicativo da classe de inteligência do interlocutor ou receptor da mensagem. Por outro lado, a frase de Buckle, embora interessante, não deve ter uma interpretação rígida pelas pessoas de outras pessoas.

Medições de níveis de inteligência, de fato, evoluíram com o passar dos séculos, antes e depois de Buckle. Entretanto, métricas como o "Quociente de Inteligência" estão com prazo de validade e servem somente para situações específicas. Medir a inteligência das pessoas com base em resultados de questionários é por demais rasteiro e subjetivo.

FRASES E PENSAMENTOS

Desde que o homem se colocou a pensar, classificar a inteligência e capacidade cognitiva dos interlocutores apresenta-se como um desafio. Desta forma, aos mais capazes, resta pensar, filosofar, construir frases e pensamentos sobre o tema.

Temos, por exemplo, algumas citações que nos levam ao aforismo de Buckle:

Thomas Buckle: "Os homens superiores discutem princípios; os homens medíocres discutem eventos; os homens inferiores

discutem pessoas."

Cícero: "É próprio de um homem de mente vulgar se preocupar com o que os outros pensam dele."

Sêneca: "A maioria das pessoas se preocupa com coisas que não têm importância."

Marco Aurélio: "O que os outros pensam de mim é problema deles. Eu só preciso me preocupar com o que eu penso de mim

mesmo."

Provérbio Chinês: "Os sábios discutem sobre as ideias, os medíocres discutem sobre as coisas, os tolos discutem sobre as

pessoas."

Dan Brown: "Mentes pequenas sempre atacaram o que não entendem."

Assim sendo, podemos dizer que, à exceção de Dan Brown, Buckle teve somente mestres a inspirá-lo. Por isso, podemos afirmar que o pensamento de Buckle para avaliar a classe das pessoas é, cada vez mais, atual e correto.

A ideia por trás da frase do inglês é muito mais antiga. Adicionalmente, ganha mais expressão, de diversas formas, ao longo da história e com as redes sociais.

ORDEM DE INTELIGÊNCIA

De acordo com a frase, Buckle separou as pessoas, educadamente, numa classe mais baixa, numa classe medíocre e numa classe acima das demais. É necessário ressaltar, sobretudo, que estas classes não possuem nenhum relacionamento a questões sociais, raciais ou de gênero. Quando iniciou seu pensamento com "... homens e mulheres ...", certamente ele falou de humanos, sem preconceitos e distinções. Enfim, podemos dizer que Buckle estava muito adiante do seu tempo.

As traduções, interpretações, paralogismos e aforismos do pensamento de Buckle são inúmeros. Contudo, podemos afirmar que o foco dele era a separação da inteligência entre os que debatiam ideias, coisas e pessoas.

DAS IDEIAS

Thomas Buckle, em suas reflexões sobre a natureza do intelecto humano, destacou a preferência das mentes mais elevadas pela discussão de ideias. Este pensamento mostra a troca intelectual como um elemento vital na evolução do pensamento humano.

A mente humana, com a sua complexidade e diversidade, encontra na discussão de ideias, inquestionavelmente, um terreno fértil para florescer. Por outro lado, os humanos encontraram nas redes sociais a aridez da imbecilidade humana e da ignorância.

As mentes mais brilhantes, ou aquelas acima da mediana em cada nação, defendem que o debate é que produz avanços. As novas perspectivas, os novos conceitos e o avanço do conhecimento somente surgem com a troca de ideias.

Ao dar preferência à discussão de ideias, as pessoas inteligentes e os sábios demonstram um profundo respeito pela diversidade de pensamento. É possível, desta forma, reconhecer e respeitar que cada mente é única, carregando consigo experiências, valores e visões de mundo distintas. Portanto, ao se envolverem em debates, não buscam apenas impor suas próprias opiniões, o que nem sempre é perceptível. O objetivo é também demonstrar abertura para aprender com os outros e a expandir seus horizontes cognitivos.

PROGRESSO INTELECTUAL

Como se não bastasse, somente a discussão aberta e honesta de ideias serve como um catalisador para o progresso intelectual e social. É através do confronto saudável de perspectivas divergentes que surgem as inovações e as descobertas científicas. Certamente, as soluções para os desafios que enfrentamos como sociedade, principalmente a digital, estão no debate. A diversidade de opiniões alimenta a criatividade e estimula o pensamento crítico, permitindo que a humanidade avance.

Por outro lado, em direção oposta a um futuro mais promissor está a cultura do compartilhamento hipócrita e dos likes automáticos.

Assim sendo, a discussão de ideias requer, obrigatoriamente, um ambiente de respeito mútuo e tolerância. O debate inteligente exige dos participantes a disposição de ouvir atentamente, considerar argumentos contrários e a refletir sobre suas convicções.

Desse modo, a situação dos perfis em redes sociais do tipo "... já tenho opinião e não quero saber de fatos ..." atrasa a humanidade.

DAS COISAS

Na sua provocação, Buckle sugere que o hábito comum de discutir triviais e eventos banais é o ponto crucial para a mediocridade intelectual. Em um mundo saturado de conversas superficiais e banalidades, seu pensamento soa tanto como uma acusação quanto como um chamamento à reflexão.

Afirmar que pessoas de inteligência mediana são triviais, sem dúvida, lança uma luz sobre a importância do que alimentamos à nossa mente. Diz um outro pensador que cada pessoa se torna muito do que se alimenta, desse modo, se uma pessoa se alimenta de coisas levianas...

A comunicação vazia, sem substância ou qualquer conteúdo, é um obstáculo para o crescimento intelectual e a expansão do conhecimento. No entanto, Buckle não apenas aponta para o problema, mas também sugere uma oportunidade de melhoria. Ele implicitamente nos desafia a reavaliar nossas interações e a buscar conversas que alimentem nossas mentes. Contudo, a preguiça mental(3), reinante nas redes sociais, desafia a todos a pensar de forma mais crítica e profunda.

HERANÇA NATURAL

A natureza das nossas conversas reflete não apenas o nível da nossa inteligência, mas também os nossos interesses, prioridades e valores. Surpreendentemente, nos últimos anos as gerações mais novas dominaram o mundo da tecnologia e não herdaram a capacidade cognitiva dos pais. Este país, com toda a certeza, pensam que fizeram tudo corretamente, #SQN.

Se estamos constantemente envolvidos em fofocas triviais ou debates fúteis, desperdiçamos uma oportunidade valiosa de crescimento pessoal. Filhos que ouvem os pais fazendo comentários sobre trivialidades, pais que não têm o hábito da leitura, encontraram o paraíso nas redes sociais.

Em contrapartida, se deliberadamente conversamos sobre temas complexos, cultivamos um ambiente propício para o desenvolvimento intelectual.

Portanto, ao invés de nos conformarmos com conversas superficiais e banais, podemos nos esforçar para elevar o nível das nossas interações. Mas, para buscar conexões mais significativas e enriquecedoras com os outros é preciso a disposição dos interlocutores.  Em outras palavras, a leitura de livros desafiadores, participação em debates fora da curva ou conversas mais profundas e autênticas, podem funcionar.

DAS PESSOAS

Chegamos, enfim, na classe de pessoas que se apresentam em maior quantidade nos espaços digitais da atualidade. Embora a afirmação de Buckle seja controversa, levanta questões intrigantes sobre as dinâmicas sociais e os padrões de comportamento.

O hábito de falar constantemente sobre os outros espelha uma série de fatores. Com toda a certeza, a insegurança, a falta de autoconhecimento e até mesmo deficiências cognitivas pessoais são causas prováveis. Em um sentido amplo e rasteiro, indica uma mentalidade que chamo de baranga-fofoqueira, sem conotação de gênero. Ou seja, alguém que busca satisfação em discutir a vida alheia em vez de se concentrar em seu próprio crescimento e desenvolvimento.

No entanto, é crucial não interpretar essa observação de forma simplista, com açodamento ou com generalizações. A complexidade das interações humanas diz que não se pode fazer uma avaliação precisa da inteligência com base apenas em seus hábitos de fala. A inteligência é um conceito amplo  cruel, que abrange não apenas a capacidade cognitiva, mas também a inteligência emocional, social e comportamental.

Além disso, a própria definição de "classe mais baixa na classificação de inteligência" é altamente subjetiva e potencialmente sectária. A inteligência não deve se relacionar em termos de status social ou econômico, pois isso perpetua estereótipos e injustiças. Cada indivíduo é único, e suas habilidades e potenciais não podem se reduzir a categorias e pensamentos simplistas.

PANDEMIA DIGITAL

A pandemia digital teve seu paciente zero anteriormente, lá atrás, possivelmente com a criação do Orkut e suas comunidades do tipo "Eu odeio". Fiz parte de algumas delas e, surpreendentemente, fui alvo de uma delas, abertamente e com mentiras insuportáveis.

Desse modo, em vez de julgar os outros com base em comportamentos superficiais, seria mais construtivo trabalhar a compreensão. As pessoas podem falar sobre os outros por uma variedade de razões, mas nenhuma faz crescer nenhuma das partes. Rotular alguém como pertencente a uma "classe mais baixa"  revela preconceito e intolerância.

Além disso, é fundamental reconhecer que todos nós temos nossas próprias fraquezas e áreas para crescimento, especialmente nestes novos tempos.

NOVOS TEMPOS

Nesse ínterim de julgamentos, preconceitos e acusações, estamos perdendo a batalha da evolução humana. Em vez de apontar o dedo para os outros, deveríamos nos concentrar em nosso próprio desenvolvimento pessoal. Entretanto, cultivar relacionamentos saudáveis e significativos com as pessoas torna-se impossível ante a falsidade das redes sociais.

A preferência pela discussão de ideias é um sinal de maturidade intelectual e um compromisso com a busca da verdade. É um convite para que as mentes mais brilhantes se unam em um diálogo construtivo. É nesse intercâmbio de ideias que encontramos a essência da jornada intelectual humana, sempre em busca de novas perspectivas.

Inquestionavelmente, a qualidade das nossas conversas é um reflexo direto da qualidade dos nossos pensamentos. Ao escolhermos nos envolver em diálogos que nos inspirem e nos desafiem, avançamos em direção potencial máximo como seres pensantes.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) Frequentemente, recebe reprimendas sobre a forma como escrevo. Insisto, por vezes, em jogar pérolas aos porcos, aos negacionistas e até aos estultos que se travestem de debatedores. Costumo ter pouca paciência com pessoas que só olham a capa de um livro ou a forma de um texto e nunca enxergam o conteúdo. Há limites!

(1) "Entre Sem Bater - Thomas Buckle - Ordem de Inteligência" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/19/entre-sem-bater-thomas-buckle-ordem-de-inteligencia/

(2) "Entre Sem Bater - Susan Piver - Confiança e Arrogância" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/04/12/entre-sem-bater-susan-piver-confianca-e-arrogancia/

(3) "Entre Sem Bater - Liz Hurley - Preguiça Mental" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2023/03/10/entre-sem-bater-liz-hurley-preguica-mental/