Sobre liberdade e autocontenção

Dia desses me veio uma inspiração para escrever um poema. Sem perda de tempo — para evitar que as imagens gráficas sumissem de repente da minha mente — coloquei-me à frente do teclado e comecei a escrever. Contudo, ao ler os primeiros versos descartei aquela inspiração.

Os versos então presentes na tela do computador eram de cunho depressivo, podendo sugerir a algum leitor que já se encontrasse deprimido algumas ideias infelizes e até suicidas.

Talvez tenha sido um exagero da minha parte, pois afinal se tratava apenas de um poema, todavia, por uma precaução da consciência preferi a prática da autocensura.

Contra a censura prévia de quaisquer manifestações artísticas ou de pensamento, penso que algumas vezes a autocensura se faz necessária. Na verdade, é uma espécie de autocontenção: eu poderia falar ou escrever sobre certos assuntos, mas escolho não fazê-lo em determinadas situações pesadas pela minha razão.

Isto me leva a refletir que as redes sociais não precisam de regulação. Assim como deve ocorrer na escola, no ambiente profissional ou nas assembleias públicas, os utilizadores de redes sociais precisam aprender a emitir suas opiniões contrárias ou favoráveis a algum tema de forma coerente, responsável e educada, praticando quando necessária a autocontenção. Prefiro autocontenção a autocensura.

O que não deveria haver é a censura prévia de um conteúdo postado nas redes sociais, simplesmente porque desagrada esse ou aquele grupo político ou social. A nossa Constituição de 1988 veda o anonimato e proíbe a censura.

Ora, quando indivíduos ou verdadeiras quadrilhas usam as redes sociais para o cometimento de crimes, a legislação vigente no Brasil já possui meios legais para identificar e punir esses criminosos, porque a justiça deve ser igual para todos, respeitando os ritos e normas processuais.

Existe hoje uma triste e equivocada tendência de rotular como sendo “discurso de ódio” toda opinião que não represente o pensamento de determinados grupos sociais ou político-ideológicos. É a ditadura que silencia e pune o livre pensamento.

Tarados! Pervertidos! Sois vós que transformam um discurso inflamado, carregado de indignação, na falácia do discurso odiento.

Numa democracia imperfeita, mas nunca relativa, a liberdade de expressão é garantida. Quanto aos eventuais excessos cometidos, que os ofendidos ou prejudicados busquem a Justiça para a devida reparação.

Voltando aos versos funestos que pretendia escrever, logo estarão completamente esquecidos em algum escaninho da minha mente, dando lugar a uma nova inspiração. E assim a vida do poeta e do escritor segue.

Abri mão de um poema deprimido por esta crônica cheia de esperança.