O Espumante

A taça de espumante que suava pequenas goticulas, escorrendo até molhar a toalha de papel da mesa parecia dizer mais do que simplesmente o aquecimento da bebida.

Uma amiga aconselhou: "Marque o encontro sábado à tarde, se for casado é certo que vai dar desculpa. Não falha."

Mas, ela se acovardou, a solidão a humilha por muito tempo. Em sua mente desesperada, era um risco que não precisava correr. Deixou que ele marcasse o dia, lugar e hora.

"Vai prum lugar público, pelo amor de Deus. Não tô a fim de receber mensagem que você foi sequestrada. Outra coisa, você não mandou aquelas fotos suas né? Você sabe..."

É uma boa amiga, não tem como negar. Mas o aviso veio tarde demais. As fotos já estavam no celular do cara.

Olhou o relógio pela enésima vez, já são vinte minutos atrasado... em um lampejo de dignidade ela pensou que deveria ser o contrário, era ele que deveria estar esperando.

"Meu Deus, o que estou fazendo?" A vergonha começa a cobrar uma atitude.

Tem certeza de que os casais ao redor estão rindo ou com pena dela. O garçom, gentilmente não se aproximou mais. Parece que o mundo reconhece uma mulher querendo ser amada.

"Amor" o que ela está pensando? Uma paquera de internet, mensagens picantes e agora ela está igual a uma palhaça, sentada, bebendo uma garrrafa de espumante sozinha.

A fúria sobe pelo peito e explode no semblante. Ela bate forte na mesa, assustando as pessoas. O garçom se aproxima.

- Pois não?

- A conta. - a ordem é taxativa.

De repente ouve uma voz sedosa, logo atrás do garçom.

- Desculpe o atraso, eu...

- Não, querido, você chegou na hora certa. - triunfante de si ela se levanta e fala com o garçom - Ele vai acertar contigo.

O rebolado da saia, justa ao corpo, é a ultima coisa que o homem consegue ver. Ou seriam os movimentos de seus dedos bloqueando o número dele?

M P Cândido
Enviado por M P Cândido em 26/04/2024
Reeditado em 26/04/2024
Código do texto: T8050210
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