O PREÇO DA LEMBRANÇA
Custava um real, esse é o preço da lembrança, num tempo que a maioria dos doces eram 0,10 centavos.
Todos os anos o vô João vinha nos visitar no meu aniversário, ele não costumava lembrar o aniversário dos netos, mas o meu ele não
esquecia, dizia que era porque era próximo ao natal, mesmo assim eu me sentia especial.
Era um ano inteirinho esperando, ele chegava, colocava a conversa em dia, e como um ritual me pegava pela mão e me levava pra bomboniere.
Lá ele dizia pra escolher o que quisesse, e naquele paraíso de açúcares, eu escolhia sempre o Kinder ovo.
Talvez pela surpresa que continha, talvez só mesmo pra que não se quebrasse a tradição de todos os anos.
Depois que cresci e fui visitar o vô João, após o almoço ele levou chamou meus filhos pra dar uma volta, e passamos na bomboniere outra vez.
A última vez que vi o Vô João, ele já não caminha mais pelas ruas, mas eu levei pra ele doce de leite das terras Mineiras onde vivo, e servi ele algumas poucas colheradas, enquanto me passava um filme de lembranças.
A doce lembrança nunca foram os doces.