VOCABULÁRIO

Tive a felicidade de ouvir a palestra do Dr. Djalma Marques (doutorkefir) sobre a importância do vocabulário como balizador de conduta e afirmação de cidadania, onde fica demonstrado que não é o pensamento quem gera palavras, mas ao contrário, são as palavras que estimulam e dão corpo aos pensamentos.

Num exemplo bem simples o palestrante convida a plateia a pensar na frase, amanhã vou comer pão: em árabe, em catalão ou qualquer outra língua que a pessoa não conheça as palavras. Nesse caso o pensamento não se forma. Entretanto se dissermos a mesma frase em português, imediatamente o pensamento tornará quase real o ato de comer o pão.

A pobreza vocabular dos nossos estudantes, motivada pelo desestímulo à leitura, é desastrosa.

O professor Tullio de Mauro (italiano) constatou que em 1976, o vocabulário dos estudantes do ginasial era em torno de 1600 palavras; em 1996 esse número havia sido reduzido para entre 700 a 600 palavras.

Tudo leva a crer que atualmente esse número esteja em 300 palavras diante da dificuldade demonstrada, principalmente pelos jovens, nas produções ou interpretações de textos ou para, oralmente, narrar qualquer fato.

Talvez esse fenômeno esteja vinculado à TV que, como qualquer audiovisual, poupa o trabalho do cérebro para construir os ambientes dos acontecimentos como acontece com as partidas de futebol quando narradas através do rádio.

Como programa de governo para quem quer se impor como grande estadista, deteriorar o idioma é a forma mais simples e eficiente de dominar populações, porque banaliza a cultura, inibe o pensamento criativo e o poder de análise, dando oportunidade a esses criminosos de plantão nas posições de destaque na sociedade de disseminar com facilidade mentiras apoiadas em narrativas, por mais falaciosas que sejam, porque os tolos não estão capacitados a contestar ou pedir as provas da realidade do que está sendo dito.

“Oh! Bem-dito o que semeia/

Livros... Livros a mão cheia/

E manda o povo pensar/

O livro caindo n’alma/

É germe – que faz a palma/

É chuva – que faz o mar”

CITAÇÃO

O Livro e a América – poeta Castro Alves (1817/71)