A praça dos Espíritos Santos

Já era Sete de Setembro quando cheguei em Poções. Fiquei esperando alguém abrir a porta de casa e logo passou Jorge Dantas com o negão do Chamuscão numa camionete, levando ramos verdes para as cabras. Ele parou no meio da rua e ficamos conversando sobre o Chamuscão, é claro. Falou do livro que está escrevendo e das fotografias que coleciona sobre o assunto. Prometi mexer no arquivo pra achar umas fotos inéditas também do bar Duca.

Logo chegou Marco Antônio. Com a gargalhada característica, fez com que Pepone abrisse a porta. Da varanda, acompanhamos a movimentação de subida dos alunos do Ceap, com as baquetas nas mãos, lembrando da concentração do Ginásio e das bicicletas enfeitadas de papel crepom. Fiquei sabendo que as escolas iriam se reunir na praça da festa.

É muito bom retornar a Poções bem no dia de festa. Fica mais fácil para ver os velhos amigos. Mas tem uma coisa: depois dos primeiros cumprimentos, a gente fala que se vê depois e conversa com calma, e nunca acontece. Vale a pena o abraço fraterno, o aperto de mão ou simplesmente a saudação. Ainda deu tempo para uma palhinha no programa do velho amigo Mufula, mesmo encima da hora.

Mas fui à praça. Gostei da organização e da condução competente da minha ex-colega de escola Lígia Macêdo, que sabe o quanto aquele momento representa para a nossa cidade. Fiquei surpreso com a quantidade de crianças participando do Sete de Setembro. Juntei-me ao amigo Gilberto Luz, o velho Pancho, e ficamos um bom tempo assistindo as apresentações, relembrando as antigas comemorações, lá na porta do Tiro de Guerra, do Sargento Severino.

Chovia e poucos arredavam pé. Havia uma mistura de resto de passado com o presente. Gente que, sem saber, cumpria a tradição de anos, capitaneadas pela demonstração de patriotismo do nosso João Lago. As bandas se apresentaram com misturas de ritmos e mostraram as suas criatividades.

A nova Filarmônica e, ao mesmo tempo, tão velha Furiosa, puxou o tom da festa. Trouxe à tona o passado, trouxe as lembranças de tantos bons momentos. Desde cedo o velho amigo Nelito, emocionado, já havia passado pela Rua da Itália acompanhando os jovens músicos e, sob o mesmo palco da apresentação, me falou um pouco dessa não tão doce tarefa de refazer a gloriosa Filarmônica.

Enquanto tocavam, Gilberto segurou o meu braço e disse: - Vamos aplaudir mesmo que cometam algum erro. Eles merecem!

Claro, merecem os aplausos e podem errar, têm direito. O nome e a tradição pesam para aqueles jovens. Naturalmente, serão guiados por cada “espírito santo”, patronos de instrumentos, que ainda paira naquela praça que escutará eternamente os acordes da nossa FURIOSA.

Nem sempre a alegria é completa. Não sabia que o amigo Vitório Dias havia falecido desde 2006. Tive conhecimento ao ver uma daquelas lembranças póstumas já na tarde do sábado, dia 08. Vitório foi um dos meus grandes companheiros de Festa do Divino e acompanhamos muitas apresentações da Furiosa na mesma praça.

Que nos assista de onde estiver, amigo!

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 07/01/2008
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