PORTO ALEGRE SEMPRE SERÁ MÁGICA

Ando costurando sonhos, pregando os botões no amanhã, alinhavando o impossível e mostrando os dentes...

Descobri que ser leve tem um preço. Pesado. Para tanto, há que se queimar a “mufa”, mastigar as ideias, queimar os miolos, ... desapegar dos hipócritas, trabalhar a raiva. Colocar os traumas da infância cara a cara e dizer a que viemos.

A gente leva tempo para entender que tudo resume-se em nossa mente, mas que o outro tem um fator fundamental no bem-estar dela ou não, isto é fato.

Neste sábado, da poltrona suspensa na varanda, deleito-me com Émile Zola. Ainda não o havia lido, mas já me apaixonei. Esta escrita poderosa é de uma simplicidade sofisticada e profunda. Como preciso disso. Como precisamos do belo original em um mundo de plágio vulgar.

Como preciso ler sobre este emaranhado de caminhos que os trens fazem na Paris do século XIX. Saber os nomes das estações e dos portos, e saber que ainda a maioria continua com os mesmos.

Gosto de ligar a literatura ao local que ela passa, ou ao que meu autor viveu. Por exemplo, sempre amei o Rio Guaíba e Porto Alegre, sem conhece-los, por conta dos personagens dos livros de Érico Verissimo. E hoje com esta tragédia, meu coração sangra além da literatura e tenta achar um sentido estoico para a esta realidade absurda.

E amo as descrições que Proust fazia das catedrais, de sua fictícia Combray, dos Champs Elisees , onde ele sempre passeava para encontrar sua Gilberte no livro “Em busca do tempo perdido”. E às vezes, gosto de ser como seu personagem Marcel, frágil, doente e martirizado pela vida. Aliás, amo tanto Paris, por tanto escritores, como Hemingway que viveu lá, Somerset Maugham que nasceu, e embora britânico tem tanto daquelas paisagens em suas obras. Era obrigatoriedade romântica nos dois últimos séculos que para ser escritor, tinha-se que viver um tempo em Paris...

E amo ouvir os nomes das ruas do Rio de Janeiro, de tanto ler Machado de Assis. São um encantamento de paz e nostalgia, embora algumas tenham mudado de descrição, a maioria continua lá, gravada na beleza das suas estórias, e quando ouço mencionar os locais, essas ruas, imagino carruagens do século XIX correndo por elas, como nos seus livros.

Então o Rio é mágico, Paris é mágica, Porto Alegre sempre será mágica.

Esta crônica é sem sentido. Não tem nenhum. O único é o amarrar dos sonhos à literatura, à vida e sobreviver à pequenez e as dores reinantes.

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 18/05/2024
Reeditado em 18/05/2024
Código do texto: T8066083
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