O SOPRO DE VIDA

Para os outros seria mais um dia no calendário universal, dia como outro qualquer, dia com amanhecer, com ocaso, apenas mais um, não haveria diferença. Para ele, no entanto, tudo estava por acontecer, não sabia sequer que existia, não tinha nome, não era ainda; sentiu uma vibração diferente, algo que não podia compreender estava acontecendo, sem aviso, sem convites. Como uma folha, na torrente de águas foi levado sem o saber, arrastado com a multidão dos iguais; do silencio, da quietude outrora vivida, nenhuma lembrança, recordação alguma de um mundo sem consciência, agora deixado para sempre. Todos corriam desesperados sem conhecer a razão, sem saber o porquê, qual a motivação de tamanha avalanche, mas seguiam adiante, instintivamente avançavam. Foi levado por uma força intensa, gigantesca, que não dependia do querer, da intenção e da vontade, era algo sobrenatural, não havia escolha, esta já havia sido feita, não por ele mas por outro. Não compreendia mas sabia que iria chegar lá, que assim fora determinado, foi percebendo tantos ficando pelo caminho, sem forças, abatidos e a medida que passava o tempo seu vigor aumentava, como um guerreiro que visualiza a vitória, percebia uma energia contagiante aflorando a sua volta, envolvendo-o, carregando-o, indicando a sua hora, então, naquele momento mágico, único e sublime, antes de todos, lançou-se no espaço, num vazio inebriante, cheio de doce silêncio, repleto de vida, marcado pelo êxtase foi de encontro a fenda, uma passagem estreita que existia apenas para ele, como se de antemão já conhecesse aquela parte de vida que lhe aguardava a tanto tempo, assim adentrou ao novo mundo, já não era mais, tudo girou a sua volta, um brilho intenso cercava o lugar, como por encanto ele se desintegrava em partículas, que iam de encontro a outra parte, um redemoinho alucinante envolvia um turbilhão de genes, unindo as partes que se entrelaçavam ordenadamente, como uma dança alegre, uma formosa plenitude, uma nova vida estava formada, criada por uma força, um poder jamais visto, a força do amor e da alegria, agora ali presente, o Único capaz de gerar o fôlego de vida.

Costa Filho, E.R. 03/12/02

costa filho
Enviado por costa filho em 04/12/2005
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