Eu, pássaro pintado: a alegoria de Kosinski

O menino é enviado

Para safar-se dos alemães.

Perde-se.

Vagueia.

Olhos negros.

Cabelos negros.

Terra de seres alvos:

Pássaro pintado.

O pássaro retirado aos seus,

Pintado, e novamente em liberdade.

Perseguido e bicado.

Até a morte.

"Sou um dos seus!"

É.

Talvez.

Não parece.

Não o reconhecem.

Kosinski narra.

Viveu, conta a história.

Denso.

Sua história.

Nossa história.

Sou o menino.

Sou o pássaro pintado.

Somos.

Jerzy Kosinski narra de forma enxuta, mas marcante.

A alegoria, quiçá encarnada, remete-nos aos eventos mais diversos.

A Polônia de 39 existe, ainda hoje, em toda a parte. Está no Brasil, em cada um de nós. Eles apenas levaram às últimas conseqüências o que nós todos chamamos de uma vida normal.

A normalidade admite a não-aceitação dos contrastes. Admite o mensurar o outro pela observação da cor das penas, ainda que sejam, originalmente, iguais às nossas.

Não é uma alusão à cor da pele, mas uma referência mais ampla, que nos separa em grupos fechados, em equilíbrio. Equilíbrio sutil.

Nesse contexto, todos, em alguma ocasião, somos o pássaro pintado.

Não apenas o outro, mas o diferente, o intruso. Aquele que, de alguma forma, ameaça a igualdade de forças estabelecida.

É o mote que nos separa.

Limitar-me ao meu mundo e aos meus instrumentos. Trabalhar o pensamento e a palavra. Transformar-me, a mim. Tarefa já árdua.

Maria da Glória Perez Delgado Sanches

Membro Correspondente da ACLAC – Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo, RJ.

Conheça mais. Faça uma visita blogs disponíveis no perfil: artigos e anotações sobre questões de Direito, português, poemas e crônicas ("causos"): http://www.blogger.com/profile/14087164358419572567

Pergunte, comente, questione, critique.

Terei muito prazer em recebê-lo.