COTAS EM FACULDADES...BREVES CONSIDERAÇÕES

Hoje, muito se discute e se debate em torno da a reserva de vagas para negros e egressos da rede pública nas faculdades e universidades brasileiras.

Acredito, que as vagas são justas, pois temos que pensar em diversos fatos e acontecimentos que remontam à época de nosso Brasil colônia, até aos dias atuais, dias estes em que o ensino público é deficiente e precário.

Os negros brasileiros, sem dúvida, são descendentes dos escravos que foram traficados para o Brasil, para servirem de mão de obra barata nas lavouras de cana-de-açucar, nas plantações de café e na extração de metais preciosos. Esses negros eram capturados ou comprados em países africanos e transportados em condições sub-humanas para o Brasil, sendo que algumas passagens históricas, confirmam que os cavalos dos portugueses e espanhóis recebiam melhor tratamento do que aqueles escravos, homens, mulheres e jovens vindos da África.

Depois de muito sofrerem nas senzalas, nos cativeiros e nos pelourinhos, os negros foram "agraciados" pela Lei Áurea, que os libertou, declarando que a escravidão tinha sido abolida neste País.

Contudo, a maioria dos escravos eram analfabetos, e não eram bem-vindos nas escolas, pois nos séculos XVIII e XIX, a grande maioria das escolas brasileiras, ou seja, praticamente todas, proibiam a matrícula de crianças negras, pardas ou mestiças; e as que permitiam, não possuiam bons professores, ou outros bons alunos, visto que a presença de um afro-descendente era tida como falta de qualidade.

Resumindo, o Brasil, essa República Federativa, deve muito aos descendentes dos escravos, pois utilizou-se do trabalho de seus antepassados e se ergueu às custas de muito suor e sangue da raça negra, e quando os libertou, não deu oportunidades, mas sim os afastou, os isolou, fazendo com que se amontoassem em favelas, morassem em barracos, e continuassem no sub-emprego, no serviço braçal, arando a terra alheia, lavando roupas para madames, dirigindo o carro para o patrão, construindo a casa do "sinhozinho".

Não sei dizer o quanto vai demorar ou o prazo para tal ressarcimento, mas o Brasil, é obrigado a pagar esta dívida, e deve à todo custo tentar curar essa ferida que ainda está aberta, manchada com o sangue dos negros e índios que foram agrilhoados e dizimados neste País.

Hoje em dia, você vai a uma escola pública e nota que a maioria são crianças de classes desfavorecidas, pobres, que vão para a aula sem uniforme, sem dinheiro para um lanche, de chinelos de dedo, com material doado, sem vontade de aprender, pois os próprios professores não estão contentes em trabalhar com uma remuneração consideravelmente baixa em um ambiente com pessoas tão sofridas, que não conseguem se concentrar no aprendizado da tabuada, das fórmulas e das orações, pois só ficam pensando no sinal do recreio, e comer a merenda escolar gratuita, um prato de sopa.

Enquanto na escola particular, está o aluno classe média ou alta, que tem computador, internet, que o pai leva e busca, vai de tênis, uniforme limpo, material novo, com professores bem remunerados, com reuniões, com motivação educacional e coordenação pedagógica.

Por isso, as Universidades Públicas, devem reservar vagas para os egressos da rede pública e negros, pois é para isso que elas foram criadas, para promover o saber, para estudar os que não podem pagar, para dar oportunidade a todos, pois se os governantes não melhorarem a qualidade do ensino fundamental e médio da rede pública, estarão tirando a oportunidade dos que nela estão matriculados.

Sendo assim, acredito que a chamada Lei de Cotas, pelo menos por enquanto, é necessária pois propicia a igualdade material.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 24/01/2008
Reeditado em 16/07/2008
Código do texto: T831181
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