Artur

Artur me chamou pelo Skype. Eu não conheço Artur e não sei por que entrei no chat com ele. O fato é que, quando vi, estávamos conversando. Ou “teclando”.

-Onde c mora?

-São Paulo, e você?

-Minas.

-Ah, tá.

-Ki city?

-São Paulo, Capital...

Só então vi a foto de Artur. Um rapaz imberbe, de óculos escuros, fazendo pose.

-O q vc faz?

-Sou arquiteta.

-Hum

-E você?

-Eu soh estudo

-O quê?

-Oq, oq????

-Estuda o quê?

-Soh estudo e mais nada. Toh no 3o ano

Terceiro ano do ensino médio. Figura e texto se encaixavam perfeitamente.

-Qtos anos vc tem?

Puxa, assim, sem anestesia? Fiquei virtualmente corada. Como dizer a ele minha idade? Como dizer ao rapaz que tinha um filho da idade dele? Iria decepcioná-lo demais, fazendo-o ver que perdia tempo com uma anciã ao invés de teclar com uma garota de sua idade. Tentei ganhar tempo para pensar.

-Você tem 17, né?

-Sim faço 18 em abril

-Parabéns!!

-Hehehehehehe

Se eu dissesse a verdade, Artur ia simplesmente deixar de conversar comigo, e eu queria saber mais de Artur. Queria entrar no universo adolescente, encontrar em Artur um pouco da face do meu filho que me é vetada. Pensei em dizer que tinha o dobro da idade dele, mas também seria mentira. E já seria velha demais para ele, ainda que eu mesma desse um dedo para voltar à juventude dos 34.

-Em vc naum me respondeu

-Eu já fiz 18 faz teeeempo...

-Hehehe

Não estava resolvendo...

-Qts?

-Tenho mais que você.

-Eu sei mais qts?

-Muuuuuito mais!

Uma última cartada:

-Não pergunte a idade de uma mulher que já passou dos 25. Eu passei.

-Hehehehehehe

Ufa, foi por pouco... mas logo ele voltou à carga.

-Tem kra de 20

Pobrezinho do Artur... tão novinho e já dependente de óculos...

-E ai com kem c mora?

Bem, havia chegado a hora da verdade.

-Moro com meus filhos. E meu cachorro, Zeca.

-Ahhhh, ksada

-Não, separada.

-Hum

“Hum”? O que significaria aquele “hum”? Desaprovação ou interesse? A ternura materna que estava sentindo pelo Artur não poderia ser profanada por uma reles expressão. Consciente de que estava tomando o tempo do garoto, aproveitei a deixa (eram mais de 11 horas da noite) e me despedi.

-Boa noite, Artur, vou dormir.

-Naum, pq vc vai embora?

Que gracinha! Tive vontade de dar-lhe um beijo de boa noite como faço diariamente com meu filho, um beijo carinhoso nas bochechas que espetam pela barba ainda um tanto indecisa, uma massagem nos biceps masculinos se delineando aos poucos e um cafuné nos cabelos com gel. Mas Artur para mim é um adolescente virtual, enquanto o outro, aqui no quarto ao lado, é real e preenche minha vida de sentido. Vou para lá para efetivar o beijo, a massagem e o cafuné - e nesse raro momento ele me dá atenção, não sem antes tomar o cuidado de me excluir de seu mundo proibido para maiores ao minimizar a tela do seu computador, de onde tecla via msn com seus inúmeros amigos e amigas. E, quem sabe, trave contato com alguma mulher madura, que esconde sua idade real como se fosse vergonhoso ter acesso ao universo virtual exclusivo dos jovens.