GAME OVER!

A minha vida acabou quando entrei naquela maldita sala, ainda sinto os reflexos do desespero se alastrar em mim quando me lembro daquele dia. O corredor abafado, as mãos que tremiam em puro pânico, o medo estampado em meus olhos, a maçaneta gelada abaixo de meus dedos e novamente ele, o medo que me congelava.

Naquele instante, por menor que ele tenha sido, vi o ano todo, aquele ano passar diante de meus olhos como num filme. Como eu gostaria de estar assistindo aquele filme, angustiada e agarrada ao meu travesseiro na expectativa de saber o destino do personagem. Mas, não era um filme, era tudo REAL.

Num impulso, revi minha vida, imaginei um final feliz, porém ele não existia, algo me dizia que aquele era o fim. Quando percebi já estava dentro da ante-sala, com todos olhando para as minhas mãos tremulas, recusei água, recusei ajuda, recusei a verdade, negando ainda dentro de mim.

Escutei um nome conhecido, vi a pessoas entrar na sala, ouvi seus gritos de dor, vi quando ela passou por mim, porém não me mexi, eu via, mas não via. Estava presa ao meu medo, ouvi gritos na minha direção, despertei e corri. Alívio, medo, terror, preocupação, novamente alívio, não sabia se corria para salvar alguém ou se para salvar a mim mesma.

Impedir que a garota se jogasse do segundo andar, mas olhei atentamente para baixo, calculando se eu morreria ou apenas sentiria dor, pensei se eu teria coragem, mas não tive, fui FRACA! Tive ódio de mim por ter sido FRACA, TOLA e BURRA. Fui afastada da grade, deixei que me encaminhassem ao mesmo corredor, a mesma porta da ante-sala e me vi parada na última porta, a porta da maldita sala.

Estava decidida a pegar algo afiado e me cortar, mas parece que ela pensou nisso, não havia nada, nada que pudesse adiantar o fim, nem clipe, nem chave, nem estilete, nada. Não tive coragem de sentar, nem falar, nem viver, as lágrimas já percorriam a minha face silenciosamente e brutalmente meu peito era perfurado por um punhal invisível.A dor já se alastrava em mim, o medo me dominava e em meu campo de visão eu só via a imagem nítida de um precipício.

Foi quando a garota foi ignorada e os olhos castanhos por trás da armação negra me encararam, pareciam rir do meu desespero e até debochar silenciosamente.“Qual é o seu problema?” foi o que ela perguntou e imediatamente pensei “O meu problema é estar aqui.”Obviamente não respondi isso, na verdade não respondi nada, minha visão ficou turva, meu rosto se contorceu, a dor ganhara, o punhal invisível vencera. Meu impulso era correr daquele maldito lugar e sumir, apenas correr como nunca fiz antes, odeio correr, mas naquele momento eu correria.

Sorri tristemente para as palavras que surgiram sob a cabeça dela, meu último sorriso, triste, mas ainda era um sorriso. Cai desacordada sob o piso de cerâmica, estava frio, porém as palavras não me abandonaram, minha vida havia encerrado. “Game Over!”