Inspiração abstrata

Não faz sentido buscar razão no incompreensível, mas ainda assim não há mal nenhum em raciocinar sobre alguns mistérios. Tudo o que chama a atenção, direta ou indiretamente, tende a remeter o pensamento a um outro ponto além do perceptível e então vem a ilusão de acreditar que está tudo esclarecido. É neste momento que um rol de prismas se apresenta e novas conclusões começam a aparecer. As possibilidades de encontrar a lógica na confusão são menores a cada nova descoberta e nada parece fazer sentido, somente aquelas velhas respostas que parecem ser o caminho correto para se perder de novo.

Ambigüidades causadas pela globalização são tão comuns que a multiplicação de ideais torna-se situação corriqueira e por mais que se queira chegar lá, sempre estará distante por haver deixado para trás a única crença que havia, a certeza de que o amanhã traria uma boa nova, que o sol se levantaria para abençoar o novo dia.

Repentinamente aquela nuvem escura surge trazendo o conhecido vento de chuva e anunciando a tempestade, ainda discreta em seu início, mas devastadora com o julgamento de que tudo vai voltar a ser como antes. Nada à frente, ninguém à espera, nenhuma palavra para ser dita, tudo acabou ruindo com o vento e a chuva mascarou as lágrimas que escorriam pela face rosada enquanto pensava naquele dia cinza. E mais uma vez é como se a vida não passasse de uma reflexão desesperada e tranqüila, analogias certas e teorias acabam colocando prioridades, elencando normas e sugerindo sonhos.

Mas, mesmo que demore, a chuva passa e leva com ela aquela sensação de vazio, deixando ainda o cheiro de novidade no ar. Quando a chuva vai embora sobram as lendas, os mitos, fica a nostalgia de viver momentos sob o sol, admirando um olhar e desejando amanhã um pouquinho mais de hoje. E o mais abstrato de tudo é aquele tal de amor, explicação nunca foi necessário e no final também não o será. Basta saber que está presente o tempo todo em tudo que é dito e demonstrado.