Caderno, palavras e café

Mais um dia...

Sento-me na cadeira e a aproximo da escrivaninha, pego o caderno com a capa já velha e o abro em qualquer folha em branco que ainda lhe resta, tiro o lápis um pouco desapontado da gaveta, está do jeito que eu gosto, uma de suas extremidades onde antes ficava a borracha agora encontra-se apenas marcas dos dentes que já passaram ali, como se aquelas cicatrizes lhe fossem recompensas por cada idéia surgida. Do lado do caderno ponho sobre a mesa uma xícara que quase transbordara de tanto café recém saído do fogão. Então assim, pego o lápis com minha mão direita, e a mão esquerda apoio sobre o caderno cuja folha em branco deseja ser preenchida, e nada me surgi, começo a dar batidinhas leves com o lápis sobre o caderno no ritmo de uma batucada na esperança de que assim me surgissem inspirações, certas vezes isso deu certo, mas hoje não foi um desses dias. Olho para a xícara ainda cheia de café, aquele aroma que invade todo o quarto que me encontro, e devagar atingi minha narina me fazendo fechar os olhos para que pudesse entrar em meus pensamentos. Abro os olhos e percebo que a folha ainda continua em branco “Ah, como seria mais fácil se nesse pedaço de madeira contivesse todo o conhecimento que preciso, e que nesse grafite as palavras simplesmente saíssem, e que minha mão só serviria para orientá-la por entre os espaços dessas linhas”. Pensamento tolo, o lápis não há de ter vida. O aroma do café ainda preenche minha mente. Volto a olhar a folha em branco na esperança que ali algumas palavras já tivessem surgido, mas nada aconteceu.

Rabisco, rabisco...rabisco

Tolas palavras, para que servem se são tão tolas? E nenhum argumento me ocorre para que eu possa responder esta pergunta, e me faço outra pergunta “Porque não existi-las?”, e essa incógnita assim como a outra, continua sem uma resposta. A folha nesse momento me implora para ser usada, o lápis com suas mordidas está posto sobre a mesa, totalmente sem vida. O silêncio que antes já predominava sobre o quarto agora parece que está mais quieto, e de repente sinto aquele doce aroma do café novamente, e meu maior desejo é de virar aquela xícara em minha boca e deliciar-me inteiramente com aquela bebida, e assim, o fiz.

Evelyn Varella
Enviado por Evelyn Varella em 31/01/2008
Código do texto: T840269
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