Janela privada.

Sentada confortavelmente na cadeira da sala em frente a janela, uma brisa leve, mudava lentamente a posição dos fios dos meus cabelos. Folheava uma revista de novidades e me deparei com um artigo nomeado por seu autor: "Traição na internet, quais os limites da privacidade". Detive a atenção quando ele disse que as pessoas têm o direito a terem privacidade e que nunca, quando se ama, deveria haver dúvidas que levassem a escarafunchar o e-mail alheio. De repente, meu pensamento distraiu olhei ao redor e pensei: o que esse cara PHD em "eu mesmo" sabe de desconfiança, de traição de infelicidade ou de lealdade. Nada. Durante muito tempo vivi uma ilusão, trabalhava incessantemente, cuidava dos filhos, tentava compreender a doença psiquiátrica do companheiro. Não tinha tempo para cuidar de mim. Uma guerreira de guerra nenhuma. Um dia percebi que meu mundo não tinha as cores pintadas por mim. O que fazer agora. A pessoa amada me usava sem perdão para satisfazer sua lascívia, e eu chamava isso de amor. Uma desculpa toda noite, e continuamente um novo erro. Um dia, sem querer, ou talvez na busca louca e ensandecida por um porque, por cima de seu ombro uma frase de sua caixa postal: "gostaria de tê-lo todo em minha boca" e "tesão". Foi o como uma pedrada. A paz tinha terminado ali. O véu caiu. A carne ficou amostra, e nessas horas, nem se pensa, agora entendo porque existe tanto crime passional. Mas o maior crime que podemos fazer e nós acorrentarmos a uma relação sem sentido querendo encontrar algum. Depois disso, após ouvir todo o rol de desculpas tipo: “é uma amiga", "estás levando a mal", "não foi isso que eu quis dizer", e por aí vai...Uma nova chance? Não existe nova chance para ruptura de confiança, a partir daí se vive novas e cruéis mentiras. Passadas algumas semanas, consegui por magia acessar a maldita caixa de e-mail, e estava, mais de trezentos e-mails trocados, e o que é pior, nos momentos que eu precisava de mais força, estava ali para outra pessoa totalmente desconhecida, o carinho necessário e esperado por mim, uma foto de uma mulher feia, magra, sem graça e extremamente vulgar. Foto dos pés. E em um dos e-mails eu figurava sendo chamada de primeira-dama. Senti como se estivesse passando a mão em uma tábua cheia de felpas. Comecei a me perguntar porque insistir em um relacionamento assim. Talvez eu nunca soubesse a dimensão do que eu estava vivendo se não tivesse visto, talvez passasse a vida o desculpando, sem me dar a oportunidade de conhecer alguém capaz de me fazer feliz de verdade. As pessoas mentem muito, mas se acomodam, escravizam, por terem medo de trocar o certo pelo duvidoso, e se irritam quando são descobertas em suas mentiras. Porque não foi mais fácil dizer a verdade: - Não te amo mais, vou arrumar minhas coisas e vou embora. Não, é mais fácil mentir, iludir e usar as culpas do companheiro contra ele mesmo: “- Ninguém gosta de mim”, ou “ – até tu iras me abandonar?”, e aí se tem uma faca de dois gumes. Eu poderia ter ficado na minha trabalhando feito louca, cuidando dos filhos, chegando tarde em casa exausta e ser abordada pelo comentário: - eu não jantei ainda. Poderia, mas não vou faze-lo. Querido autor a tua sabedoria não passa de ficção. Realmente estás longe de acertar sobre o que é privacidade. O que é meu não pode afetar o outro, se não é nosso. Quando as pessoas confiam seus sentimentos mutuamente, ele deixa de ser privado, se assim não for é mentira, é uma relação escravocrata e doentia. O vento começou a soprar mais forte, levantei e olhei pela janela, a brisa virou ventania e, ao longe, as nuvens cinzas se agrupavam em uma tempestade. Pensei: tenho outras coisas a fazer, quem sabe, viver.

Nanda Realli
Enviado por Nanda Realli em 05/02/2008
Código do texto: T846418