Resposta 4

Bateu à porta. Eu estava sentado à escrivaninha e lia um conto. Lá fora, uma tempestade servia-me como pano de fundo. Encostei o livro e tirei meus óculos. Levantei-me sem pressa e me dirigi à porta. Há anos ninguém vinha visitar-me àquelas horas, a sagrada hora de minha conversa com Machado... Abri. Encontrei Amélia cabisbaixa e molhada. Encarou-me com aqueles olhos profundos e vagos. Ela voltava não sabia de que canto, de qual beco... Pedi que entrasse e ela sentou-se na velha e conhecida poltrona. Fui à cozinha e peguei um copo d’água morna e lhe trouxe uma toalha também. Cobriu-se e bebeu a água. Enquanto enxugava as lágrimas, foi contando-me sobre suas trilhas.

Na verdade não teria ido muito longe. Mal tinha saído da cidade. Vagava por trechos nas proximidades da casa de uma velha amiga quando esta pediu que entrasse. Mas, até então, Lena não havia reconhecido Amélia. Quando Amélia entrou, Lena surpreendeu-se: “Sim... Amélia... É você! Eu me lembro daqueles tempos. Como está diferente!” Amélia realmente estava diferente: mais pálida, mais magra, mais velha do que poderia estar. Amélia contou-me que permaneceu alguns instantes em silêncio, pois não sabia como reagir à surpresa de Lena. E ainda, contou-me Amélia, Lena estava tão bonita como nunca antes visto e ninguém podia dar-lhe mais que trinta. Com aquela feição angelical, aqueles olhos flamejantes, aquele sorriso... O mesmo sorriso dos tempos de academia. Amélia abraçou a amiga. As lágrimas serviram como prova de uma amizade que não foi interrompida pelo tempo. Conversas sobre o passado, sobre o presente... Mas Amélia buscava palavras não sabia de onde e mantinha os pensamentos longe dali. Mal tinha o que compartilhar. Ouvia sobre as viagens, os cursos, as experiências e, novamente, sentia-se fora de seu espaço, de seu ambiente, de seu mundo. Amélia olhou para o relógio e, interrompendo Lena, disse que precisava ir e voltaria uma outra vez quando poderiam conversar durantes longas horas. Lena levou-a até a porta e agradeceu. Amélia saiu apressadamente.

Durante uma semana, Amélia ficou encarcerada em casa entre fotos, cartas, papéis e discos. Foi no oitavo dia que Amélia revolveu sair e procurar-me... Quando bateu à porta.