Os pseudos-críticos

Amigos leitores, estou prestes a entrar na minha última semana de férias. O bom do nosso trabalho ‘voluntário’, o de nós blogueiros, colunistas on-line, é que somos o funcionário e o patrão. Por tanto podemos escolher quando queremos tirar férias e por quanto tempo. Só não podemos aumentar nossos salários, como muitos parlamentares do Brasil fazem porque não somos assalariados. Não neste espaço. E até é bom que seja assim. Ficar escrevendo sob pressão, ter prazos para entregar textos, crônicas, editoriais, isso se unifica no mundo corporativo do jornalismo. No entanto, aqui temos mais liberdade. Podemos, por exemplo, falar mal da sogra, do vizinho, da mulher histérica da fila do banco, do motorista do ônibus por não ter parado quando você solicitou, podemos criticar quase todos – é claro que os políticos também – jamais podemos perder essa oportunidade. Todavia, uma coisa é criticar com fundamento, outra é criticar por criticar, sem justificativa persuasiva. Nosso país está cheio de pseudos-críticos. A grande maioria sonha com um lugar ao sol no mundo crônico das redações de jornal. É compreensível. O sujeito acorda de manhã, toma o seu café, lê os jornais, os sites informativos, e ali já decide quem e como vai criticar. Ele mesmo cria e oferece a si a sua sugestão de pauta. O sonho de todo pseudo-crítico é ser processado. “Estou sendo processado por 12 políticos (cineastas) – (escritores) - (servidores públicos) o que for, e vou continuar sendo processado, pois não vou me calar para o que não é ético.” Essa é a frase mais comum do pseudo-crítico. O problema é que o crítico torna, por vezes, a perder a razão em suas opiniões porque ele mesmo acaba virando um clichê. Você até já sabe sua norma factual de criticar. Naturalmente, a forma com a qual um pseudo-crítico impõem seus argumentos é quase sempre apoiada em fatos ou idéias supérfluas, sem fundamento ou ainda incoerentes.

Lembro-me de uma vez em que um amigo meu leu uma crônica do Diogo Mainardi - esse meu amigo na época era estudante secundarista – ele leu o texto do Digo olhou para mim e disse com os olhos firmes e frios: “Luan, se um dia tu fores esse tipo de jornalista eu juro que te mato”. E perguntei o porquê e ele me respondeu, enfaticamente, dizendo que este tipo de jornalismo é sensacionalista. O adverti falando que meu estilo de jornalismo é outro. Então ele me perguntou se eu achava os textos de Diogo Mainardi supositórios, sem fatos reais em seu contexto. Respondi que fatos reais existem, senão o Diogo não os publicaria - os publicaria? – só que o estilo do colunista da Veja é um pouco debochado. Aliás, quero deixar bem claro que não tenho nada contra o Diogo Mainardi, até o apoio em algumas situações, porém discordo da maneira que ele justamente as propaga. Mas isso é questão de visão jornalística, cada jornalista possui a sua. Embora eu seja um jornalista em formação, não deixo de ter meus princípios e minhas ideologias. Contudo, meu amigo da época certamente classificou o Diogo Mainardi como um pseudo-crítico.

E aí chega ao ponto crucial. A visão individualista baseada em sua experiência analítica de vida. Talvez o grande problema da sociedade seja a carência de preparo intelectual do povo. Por isso que há violência, corrupção e falta de ética em vários setores de nosso mundo globalizado. Geralmente (não todas) as pessoas de um nível razoável de conhecimento tomam rumos mais sensatos daqueles que julgam saber de tudo. Por tanto, esses que sabem de tudo sempre têm a razão. Basta entrar em um bar de esquina e conhecer seus freqüentadores que quase todos vão argumentar sobre as leis do código penal, por exemplo. Quase todos os botequeiros são advogados. Não sei por que existem faculdades hoje em dia. Os botequeiros passam horas discutindo sobre as leis do país, carga tributária, sobre todo e qualquer tipo de informação judicial, e na hora de votar não possuem, ao meu julgar social, o mínimo de sensatez ou conhecimento ideológico nacional para escolher um candidato decente.

Aí, em seguida vêm os pseudos-críticos. Eles adoram criticar Brasília, os eleitos da câmara dos deputados, os eleitos do senado, mas esses parlamentares eleitos nada mais são do que o reflexo de nós votantes. Um país que carece de educação base, economia favorável às classes mais necessitadas, não pode esperar de seus eleitores uma resposta democrática intelectualista. É claro que há vários poréns, questões de índole pessoal são fundamentais nas possíveis explicações para o descaso de nosso país.

O meu amigo que criticou Diogo Mainardi com certeza tem seus motivos democráticos, toma partida em algum movimento político. E talvez seja por isso que nunca chegamos a um consenso republicano. Nossas divergências são diferenciadas pelas nossas classes e não pela nossa suposta intelectualidade. Antes de criticarmos o país devemos nos criticar e supervisionar nossas atitudes ditatoriais. O Brasil possui muitos ditadores, a começar pelos pseudos-críticos.

Aliás, acho que eu também sou um pseudo-crítico. Mas ao menos eu reconheço, não? Há aqueles que passam sua vida inteira monopolizando suas opiniões e quando vão de encontro com a verdade desdizem o que afirmaram com grande veemência. Falta-nos personalidade forte para a nossa democracia. Velhos tempos aqueles dos monarcas... Se bem que o clero também era corrupto. E depois os pseudos-críticos vêm me dizer que a corrupção não é antiga... Já é arcaica, assim como a nossa atual posição de conformistas e desmemoriados.