SONHO, PRAZER E FELICIDADE

A ética da diversão é uma tentativa de recuperar os prazeres da infância fazendo de conta. Muitas brincadeiras infantis, principalmente as que imitam os adultos, contêm implícitas ou explicita atitudes de faz-de-conta. A fantasia é importante para que a criança se entregue de corpo e alma à brincadeira.

A infância sempre foi considerada universalmente como a época mais feliz da vida. Mas as crianças não percebem que são felizes. No entanto, qualquer criança responde imediatamente se está se divertindo ou não.

Os adultos costumam idealizar suas infâncias porque retrospectivamente surgem como anos felizes, sem preocupações e sem os problemas que devastam a idade adulta. Mas o passado e o futuro não passam de sonhos. Só o presente é real.

Se o adulto entrar na brincadeira das crianças, será obrigado a aceitar a fantasia ou então não poderá participar. Sem o faz-de-conta a criança não pode se entregar totalmente e, sem entrega total, não há prazer.

As crianças se envolvem completamente com os jogos e brincadeiras. Quando dizem que a brincadeira foi divertida, não quer dizer que foi só um passatempo, mas sim que, numa situação de imaginação, se envolveram de corpo e alma com a atividade e alcançaram prazer ao se auto-exprimir.

Os adultos se divertem plenamente quando não têm que se preocupar com resultados e podem se envolver num clima de fantasia. É por isso que um palhaço só é engraçado quando imagina que é sério. Se realmente fosse sério, não seria engraçado. Todo humor se baseia na suspensão da realidade para permitir que a imaginação flua.

As coisas são divertidas quando a realidade está suspensa em nossa consciência, o que causa prazer.

Uma das razões de não termos prazer é que tentamos nos divertir com coisas sérias e levamos a sério as atividades que são meras diversões.

O jogo que geralmente não traz conseqüências graves deveria ser praticado só para passar o tempo; entretanto as pessoas se entregam a essa atividade como se fossem um caso de vida ou morte. Não estou me referindo à seriedade do jogo; as crianças levam a sério suas brincadeiras, mas não a seriedade que os adultos atribuem aos resultados e que afugentam o prazer.

Por outro lado, atividades que realmente são sérias como sexo, ingestão de drogas ou direção de um automóvel em alta velocidade, amiúde são praticadas para se divertir.

A atual obsessão pelo divertimento é uma reação à vida horrível que somos obrigados a levar. A busca de entretenimentos surge da necessidade de fugir dos problemas, conflitos e sentimentos que parecem intoleráveis e avassaladores.

A diversão como uma fuga se relaciona à idéia de escapada. Esta é a rejeição da realidade social, da realidade de propriedade de outra pessoa, dos seus sentimentos e até de sua própria vida.

A festa ilícita com bebidas alcoólicas, à volta num carro roubado, o vandalismo, são escapadas ou dão aos participantes a ilusão de estarem se divertindo.

Quando as escapadas são inocentes, que dizer, quando não são perigosas nem destrutivas, fazem parte do mundo adolescente e servem como uma das pontes entre a infância e a idade adulta. Mas se não for esse o caso, deixa de ser diversão para se transformar numa ação desesperada para fugir da realidade.

Quando uma situação desagradável termina é como se um sonho se tornasse realidade e a euforia daí resultante tem certa semelhança com o sonho. A mente, arrebatada pelo fluxo de emoções, perde o controle normal da realidade.

Porém, a euforia some rapidamente e as exigências e os problemas do dia-a-dia voltam a afligir a mente. A felicidade e a diversão pertencem à mesma categoria de experiências transcendentais. Nas duas há uma suspensão da realidade cotidiana. O espírito alegra-se por causa de sua libertação.

Todos nós queremos que a vida seja mais do que a luta pela sobrevivência, ela deveria ser mais agradável. Mas quando o amor e a alegria desaparecem, sonhamos com a felicidade e procuramos à diversão.

Não conseguimos perceber que o alicerce de uma vida alegre e sadia é o prazer que sentimos em nossos corpos, e que sem essa vitalidade, ela se transforma na cruel necessidade de sobrevivência onde a ameaça de tragédia nunca está ausente.

Subjacente a qualquer experiência de alegria ou felicidade existe uma sensação corporal de prazer.

É bom estar vivo! É assim que nos sentimos quando somos felizes, contudo para que alguém possa usufruir uma vida feliz, terá de ter primeiro algo que nem todos têm – um motivo para se viver.

Sua vida precisa ter sentido, se quiser ser realmente feliz. A pessoa vive enquanto sente que sua vida tem significado e valor, e enquanto tem um motivo para viver.

Assim que o significado, o valor e a esperança desaparecem da experiência da pessoa, ela começa a deixar de viver; começa a morrer e logicamente a felicidade desaparece.

Naturalmente, pode-se simplesmente tentar ignorar os problemas do cotidiano e gozar a vida. Há muito a favor de ter prazer na vida, apesar de seus problemas. Mas não é realístico levar uma vida de ilusões. Precisamos sonhar o que é diferente, o sonho alimenta a vida, a vontade de realizá-lo nos leva a luta pela sobrevivência.

O homem ao deitar-se para dormir precisa ter na mente o que irá fazer ao acordar no dia seguinte, precisa ter uma meta, um objetivo, a vontade de realizar um sonho, régua e compasso para traçar sua vida, isso lhe dará felicidade.

Sem um sonho, é impossível conhecer a felicidade.

RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA
Enviado por RONALDO JOSÉ DE ALMEIDA em 13/02/2008
Código do texto: T857291
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