O fim

Aquela cena passava diante de seus olhos como num filme, porém tendo ele como protagonista, talvez, naquela situação ele estivesse mais para vilão. Naquele morro exposto a chuva que caia, ele via a única que o enxergava de um modo diferente escapar, fugir e correr para nunca mais voltar.

Deixara de ser egoísta e pensara nela, somente nela... Tinha certeza que fizera o certo ao terminar novamente, mas não teria mais volta daquela vez. Por que aquela persistente dor voltava a atormentá-lo? Por que vê-la se afastar lhe comprimia o peito? Por que nunca conseguira dizer a ela o que sentia? Por que nunca conseguia pronunciar as três palavras que a deixariam muito feliz?

Ele nunca conseguiu dizer que a amava, não dizer aquilo lhe perturbou durante um tempo, e perturbou a ela também, dizer a ela o que sentia naquele momento poderia ter diminuído a dor que sentia, ou poderia ter dado a ela uma real prova de seus sentimentos, mas ela também não sabia o real motivo para ele estar terminando novamente.

Nada disso mais importava, ela não estava mais com ele, estaria salva, viva, provavelmente nos braços do outro que dissera o que sentia, mas ainda estaria viva, longe da morte que o perseguia.

Ao longe, só conseguia ver seus longos cabelos negros esvoaçarem; lembrou-se do cheiros deles; da maciez de sua pele; do sabor de seus beijos, lembrou-se que nunca mais os teria para si.

Naquele instante, no curto tempo de reflexão pensou em jogar tudo para o alto e correr atrás dela. Seu coração parecia ter tomado o controle, quando se deu conta corria como louco atrás dela, um louco apaixonado. Parou de súbito, bateu em sua própria cabeça como se o repreende-se por tal ato.

Há tempos conseguira dizer para si mesmo que a amava, mas não conseguia dizer a ela, parou novamente, sem se importar com a chuva que ficava cada vez mais forte e fitou o caminho que sua amada fizera.

Não importava seus sentimentos, não importava a dor que teria todos os dias, ao acordar sem ela, sua dor seria aos poucos eliminada por saber que ela estaria segura.

Os sorrisos que tanto amava, acalmariam seu coração, mesmo não sendo para ele, fingiria, se enganaria tudo por ela.

Os olhos azuis segui-los-ia onde quer que estejam, levantou a cabeça fitando pela última vez o local de tantos encontros.

Fechou os olhos e sentiu o cheiro dela, lembrou-se dos risos, dos toques, dos olhares, dos beijos, dos sorrisos. Deixou apenas uma lágrima escorrer por seu rosto, fitou os portões por onde ela saíra e murmurou ao vento, mesmo sabendo que ela nunca chegaria a ouvir:

- Eu te amo!