O ÓCIO DAS TEORIAS III

A semana passada, eu estava na Universidade, quando recebi a grata visita do grande teorista, o Rodolfo. Cumprimentou-me, exultante. Acabava de chegar de um curso na ESPM (Escola Superior de Publicidade e Marketing), em São Paulo. Sempre fico alegre com a presença do ilustre companheiro, pois, com certeza, vem algo de novo em suas teorias.

“- Raimundo, eu estou super satisfeito com a minha viagem a São Paulo. Imagine você que as passagens eu consegui dividir em 12 vezes sem juros e a matrícula eu consegui um desconto de 20 por cento à vista e acabei por economizar a grana das refeições, que por sinal, eram feitas na própria escola e custavam baratíssimas! É claro que podia repetir o prato e eu, estrategicamente, armazenava o maior volume possível e evitava, com isso, de gastar dinheiro com o jantar, pois a fruta que eu pegava no almoço servia como uma refeição leve, como deve ser o jantar, não é? E na volta ainda fiquei, por conta da empresa aérea, em pernoite no Recife – Boa Viagem – num hotel maravilhoso, em virtude de ter perdido a conexão. O café da manhã valeu pelo almoço e pelo jantar”. Foi o meu presente de aniversário.

É claro que eu não quis concordar com as teorias do caro amigo, mas para ver como o nobre companheiro ia reverter às despesas que fizera em terras do sudeste, perguntei como estava sendo administradas essas retiradas substanciais do seu orçamento.

“- Fácil. O mês tem quatro semanas, certo? Toda semana eu economizo dois dias de transporte, vindo para a faculdade de carona. Sabe como é? Ligo para um amigo (a cobrar) e peço para ele me pegar lá no ponto da carona (Cobal). Aqui, eu evito merendar nesses dois dias. Aí já dá uma economia de: gasolina (R$ 5,20 x 2 = R$ 10,40 x 4 = R$ 41,60), merenda (R$ 2,50 x 2 = R$ 5,00 x 4 = R$ 20,00), no restante dos dias (12 dias) eu não ligo o ar do carro e economizo, em média, R$ 5,00 durante o mês. Juntando toda a economia feita durante o período, perfaz um total de R$ 66,60, o que significa o valor da prestação mensal das passagens”.

Fiquei admirado e absolutamente incrédulo com a matemática, assim como, com os princípios teóricos, dignos de um seleto grupo de cauíras que encontram fórmulas miraculosas para fazer render os seus ricos dinheirinhos. No entanto, para surpresa minha, as novidades ainda não havia acabado. Rodolfo sacou o seu celular (fiquei perplexo, pois o aparelho era último tipo e um dos mais caros, diferentemente do que ele possuía, e que era, inclusive, analógico), olhou para mim e disse: “- vou contar a história desse celular. Quase que o perdi de assalto, na praia, agora no réveillon”. E continuou:

“- Foi assim. Eu botei R$ 20,00 de gasolina para rodar os 100 quilômetros de ida e volta à praia. Para economizar, eu procurei sempre ir atrás dos carros, especialmente, daqueles dirigidos por pessoas mais idosas, que não costumam passar dos oitenta. Assim, eu economizo na abertura da passagem do combustível, e muito mais, por estar sem receber o atrito do vento - pois estou sempre no vácuo do carro da frente - que recebe todo o impacto. Pois bem, quando eu cheguei lá, deixei o carro guardado e fui a pé para a festa. Era perto, apenas um quilômetro e meio, lá de casa para o local. Bem, aproveitei o máximo à senha que um colega me arranjou pela metade do preço, dançando até as 03h00min. Quando resolvi vir embora, não quis pegar um moto-táxi. Ia economizar os R$ 5,00, e como só tinha gasto R$ 5,00 da senha, ia voltar com R$ 10,00 para casa. Serviria para a noite seguinte. A lua estava linda e voltando a pé eu me exercitaria sem precisar pagar academia. Estava de bermuda e camiseta. Por precaução, coloquei o celular e o dinheiro dentro da cueca, tipo sunga. Quando eu vinha na metade do caminho fui abordado por quatro rapazes em duas motos que me cercaram e exigiram o dinheiro que eu levava. Argumentei que não tinha dinheiro e eles me pediram a camiseta e a bermuda. Nessa hora eu gelei professor! Se na hora que eu estivesse tirando a bermuda, o celular caísse? Ia perder um objeto caro e que levei quase seis meses economizando para comprá-lo. Mas, não tinha saída. Tirei e entreguei a um deles, juntamente com a camiseta e as sandálias. Fiquei só de cueca. Mas, o bom estava por vir. Na hora que eles iam saindo, o celular começou a vibrar dentro da cueca. Parecia que eu estava levando choque! Controlei-me para não despertar suspeitas e quando eles saíram em disparada, eu também disparei para casa. A sorte que a rua estava deserta. Escapei por um triz e só lamento pela bermuda, camiseta e sandália”.

Depois dessa, nós nos despedimos e eu fiquei imaginando como seria a namorada do estimado amigo: no mínimo não teria boca, pois se fosse para ele dar de comer e beber, fidúcia a parte, não a namoraria.


 

Obs. Imagem da internet
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 18/02/2008
Reeditado em 04/12/2011
Código do texto: T864489
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