O acompanhamento do conflito mundial *

*Texto extraido do livro "As crises da vida (Fragmemntos de uma exisência) -Publicação autônoma-dezembro/2007

A preocupação em ficar em dia com o desenrolar do conflito, fizera meu pai adquirir em Caicó, um Mapa Mundi que, colocado na parede, mantinha atualizado o movimento das tropas, registrado com “tachas” de cores verde e vermelha.

A cor verde representava os aliados e a vermelha, os nazistas. Intimamente eu torcia pela cor vermelha, por achar mais bonita, preferência conservada posteriormente nos cordões de pastoril, barracas das festas de padroeira e no time do América de Natal.

Eu o acompanhava todas as noites, fascinado pelas conversas a respeito da guerra, pelo efeito pictórico dos movimentos dos exércitos e também por um lanche de doce com queijo, acompanhado de café, que a dona da casa servia. Para mim, bastava o doce com queijo, já que, mesmo gostando de café, era-me proibido sob o argumento de fazer mal a crianças.

Confesso que, logo após o lanche, e às vezes até antes, adormecia, ouvindo, ao ser acordado, a repetida sentença de ser aquele o último dia da preferência, em relação aos outros irmãos, ansiosos de participarem do lanche noturno.

Possivelmente, em razão desse contato na infância com assuntos de adultos, logo cedo se manifestou em mim o interesse por notícias dos acontecimentos fora dos estreitos limites da província; pela leitura de jornais; livros infantis, posteriormente, de aventura e até a literatura propriamente dita.

Como relato em outro trecho, na fase de adolescente, recebi influência de um amigo, amante da leitura de romances e poesias e, na falta de entretenimentos maior em Caicó, líamos muito e trocávamos idéias sobre os assuntos lidos.

Quando voltamos para Caicó, seu Zezinho Gurgel, o farmacêutico da cidade e mais tarde meu professor no Ginásio Diocesano Seridoense, assinava o Diário de Pernambuco e o Jornal do Comercio, ambos de Recife, e depois de lê-los entregava-os ao meu pai, para fazer o mesmo e deixá-los na Biblioteca Municipal, para uso da comunidade.

Pegava também carona e lia as matérias do meu interesse: notícias policiais, de esporte e as reportagens em geral. Sendo encarregado por meu pai para levar os jornais (já lidos) para a

biblioteca, habituei-me também a freqüentá-la

Mesmo admitindo a carência de grande obras no seu acervo, lá fiz tentativa (frustrada) de ler Os Sertões, de Euclides da Cunha. Talvez eu ainda não tivesse o amadurecimento necessário para entender o grande valor que aquela obra representa na literatura brasileira. Mas, o certo é que não tive fôlego para ir até o final.

Talvez ainda em razão dessa experiência infanto-juvenil, minha primeira vocação foi para o jornalismo, especialmente repórter. Se possível, “Correspondente de Guerra”.Não havendo guerra, reportagens de aventuras, a exemplo de grandes jornalistas brasileiros, como David Nasser e Joel Silveira.

Como não era proibido sonhar, sonhava.

Biuza
Enviado por Biuza em 21/02/2008
Código do texto: T869930