O sonho de um sexta-feira de Carnaval.

Carnaval passou...

Interessante como um feriado transforma, quase todas, as pessoas.

Acordei na sexta, dia de iniciar a folia, e pensei em vários modos de encarar esta passagem de tempo.

Poderia ser a mesma pessoa ou me trasnformar.

Como estava em dúvida, sobre qual conduta deveria ter, então, fui beber.

Ah! Como é bom ser livre.

O posto, que sempre frequento, estava vazio.

Sentei na mala do carro, coloquei um som ambiente (Richard Clayderman), olhei para o sol e, entre goles de cerveja, dava uns tragos no meu cigarro.

A vida não poderia ficar melhor.

De repente o silêncio é rompido.

Escutava de longe aquela marchinha do carnaval de Recife.

Putz! Não acredito.

9h da manhã e as pessoas já saem nas ruas?

Prévia do Timbu coroado.

Tive que desligar o som, apaguei meu cigarro e busquei outra cerveja.

O atendente do posto fala:

- Está proibida entrada de pessoas na loja de conveniência, até que o bloco passe por inteiro.

E, ironicamente, respondo:

- Mas, eu não sou uma pessoa. Se fosse já estaria pulando com eles na rua.

O sangue ferveu.

Não podia escutar som, não podia comprar cerveja...

O que então iria fazer até poder sair com o carro?

Bem, tomei uma decisão.

Vou entrar no espírito do carnaval.

E, por um lado, pode até ser proveitoso.

Afinal, as mulheres ficam bêbadas e querendo transar loucamente, do jeito que eu gosto.

Abro o carro, novamente, e pego o perfume.

Faço pose do lado do carro.

Essas mulheres futéis adoram homem com carro.

Uma, em particular, é bem interessante.

Loira, alta, corpo escultural. Enfim, fenomenal.

Dou um puxão em minha cueca, pra ela olhar pra cabeça não-pensante do Farr Sunsa, e ela olha.

Bom sinal...

Não resisto e prontamente me aproximo da deusa.

- Menina linda, por você dançaria frevo, jogaria fora meus cigarros, usaria roupas de mauricinho.

- Menino estranho, eu não curto frevo, eu também fumo, não gosto de mauricinhos.

Então, o que pretendes fazer agora? - Pergunto.

- Não sei, mas o banheiro do posto cabem dois, certo?

Quando já atingia o nirvana, novamente, um som interrompe.

Não sei ao certo o que as palavras significavam, mas parecia uma música sem muito ritmo.

Um grito, então, ecoa em minhas orelhas.

- Henrique, porra, acorda e atende esse telefone.

Putz! Estava a sonhar.

Mas, será que aquela mulher tão linda era irreal?

Na dúvida é melhor acreditar que era meu ideal feminino.

Falava pouco, era gostosa e transava muito bem.

- Alô?

- Que demora pra atender este telefone.

O bloco já vai começar.

Você vai ou não? - Pergunta a voz do outro lado.

- Acho que não.

Tem certas coisas que funcionam bem nos sonhos.

Então, não tente confundí-los com a realidade, pois

podes ficar decepcionado e não ter forças para

levantar no outro dia.