A segunda viagem a Portugal *

* Texto extraido do projeto de livro ainda sem título e aguardando editor.

As viagens não servem apenas para o prazer lúdico de visitar outras terras; desfrutar das belezas naturais, conhecer os costumes; interagir com as pessoas locais e os visitantes. Servem, também para fotografar; ouvir histórias e estórias dos nativos; visitar museus, pontos turísticos oficiosos, ou descobertos pela curiosidade; freqüentar bons restaurantes; sair da rotina, do stress; namorar; ser um babaca como todo turista deve ser etc.

Há toda uma gama de atividades para participar, voluntariamente ou por imposição do roteiro previamente traçado pelos guias.

Já realizei várias viagens pelo Brasil e exterior. Colhi fotografias, registrei pôr-do-sol belíssimos em várias partes do mundo. Mas somente há poucos anos me dei conta das oportunidades perdidas em não registrar em textos, que posteriormente renovariam o prazer de ter vivido e a gratificação de rememorar as maravilhas vistas e fotografadas.

No final de 1999 e início de 2000 fiz uma viagem a Portugal, acompanhado de Walma, e aproveitei para fazer um relato dos fatos mais ou menos interessantes ocorridos. Não houve propósito de fazer literatura. Apenas registro para consumo próprio e de amigos eventualmente interessados.

Publiquei a “obra” sob o título de “A virada do Milênio”, apresentando a novidade sob o ponto de vista editorial de personalizar os exemplares. Essa particularidade teve ao final mais importância do que o conteúdo, pois resolvi acrescentá-la ao final do livro como uma espécie de anexo.

A registrar, o mico pago no próprio título, pois o milênio somente iniciaria no ano seguinte.

À parte essa pequena gafe, as dedicatórias, cerca de cento e cinqüenta, foram elaboradas com base em informações ou conhecimentos relacionados com cada homenageado. A novidade produziu reações diversas e fora do objetivo visado, que era apenas o de honrar as pessoas com uma deferência , na festa de comemoração das sessenta e oito primaveras, organizada por amigos, em João Pessoa, e por Walma, em Natal.

Houve curiosidade em saber os pormenores das referências às outras pessoas; ciúme, por entenderem poucas as dedicadas a si, em relação às que em sua opinião não mereciam tanto destaque, e daí por diante.

Mas isso eu já previra na justificativa apresentada como intróito às próprias dedicatórias. Não contava com as reações sobre o conteúdo do livro. Alguns elogios sobre aspectos que jamais pensei chamarem a atenção, como por exemplo, a identidade do estilo da narrativa com o meu jeito peculiar de falar.

Chegaram a dizer que o livro era minha cara, no que se considerada a figura, não é bem um elogio.

Mas outro aspecto a merecer registro é o de pessoas que jamais imaginei receber uma crítica sobre a leitura, manifestarem-se por telefone ou pessoalmente e até por carta.

Houve até quem escrevesse uma poesia sobre uma passagem que achou interessante. Foi o meu amigo e poeta Gilberto Avelino, de saudosa memória.

Mas, por outro lado, outras pessoas em quem apostava numa manifestação elogiosa, até mesmo pelo parentesco e estima, permaneceram silentes, como se nada houvesse ocorrido. Alguns, creio, não se deram ao trabalho de ler, sequer a “orelha”, para ter uma noção do assunto tratado.

Há um conforto porém: houve alguns pedidos para que repetisse o feito quando souberam desse novo giro pelo velho Portugal.

A esses, em retribuição, vou tentar satisfazê-los, a partir deste relato sobre a Segunda Viagem a Portugal, esperando não ser “o segundo livro menos lido no mundo”, equiparando-se ao primeiro.

O Norte de Portugal foi o objetivo visado. Aproveitei o ensejo para registrar alguns fatos ou situações que pudessem ser rememoradas no futuro ou mesmo repassadas a eventuais leitores, caso publicadas.

A seqüência seguida daqui a diante, sem obediência de ordem cronológica ou de importância, visa atingir esse desiderato. Farei adaptação, no que puder, com o objetivo de generalizá-las, na formulação de algum conceito, evitando a inconveniência de citar nomes ou fontes. Se lhes falta, com isso, cientificidade, sobram-lhes fragmentos da memória e da imaginação.

Serviu-me de lição para mudança de atitude em relação ao registro dos fatos pitorescos, o exemplo de uma amiga, contumaz viajante.

Mais de uma vez já percorreu os cinco Continentes, faltando-lhe apenas escalar o Everest. Caso o faça, será por mera satisfação pessoal; nada de aventura ou desejo de quebrar recordes ou ir para o Guinnes Book. Conserva milhares e milhares de fotografias, mas nada anotou que pudesse identificá-las com os locais visitados, ou as experiências vivenciadas. De registro, apenas a data inserida automaticamente pela própria máquina, detalhe que o tempo e a variedade de locais visitados tornarão difícil ou impossível a identificação de sua história.

Há um fato imperdoável não registrado. Aconteceu numa viagem ao Peru. Hospedara-se num hotel, cuja bonita arquitetura de estilo europeu chamara-lhe a atenção. Fez uma fotografia da fachada do edifício, para recordação de sua passagem naquele local.

À noite, houve um terremoto e toda a frente do hotel ruiu, inclusive a bela fachada. No outro dia, a foto da véspera foi repetida vendo-se ao fundo os escombros. Nada mais.

No regresso, ao contar-me a história, exibindo as duas fotos, indaguei-lhe se havia escrito algumas palavras sobre o inusitado acontecimento.

A resposta foi negativa sob o argumento de não gostar de anotar os acontecimentos das viagens, porque lhe bastariam o prazer e as sensações do momento.

Essa a razão de viajar constantemente, para sempre ter o prazer renovado.

Se esse é o motivo, contra-argumentei, outro acontecimento igual ao do terremoto, com certeza não se repetirá. Logo a sensação de presenciá-lo em idênticas circunstâncias está afastada.

O registro escrito seria a forma adicional de perpetuá-lo.

Senão do fato em si, mas das fotos que o registraram.

Biuza
Enviado por Biuza em 24/02/2008
Código do texto: T874419