Minha lancheira, saudosa companheira

Quem não se lembra de sua lancheira, na época dos primeiros anos escolares?

Símbolo de alegria, com misto de responsabilidade, a minha era cor de rosa, de plástico, na época em que esse material foi inventado. Tinha a garrafinha branca, também com tampa cor de rosa para combinar.

Lembro-me de que minha mãe, ora colocava suco de laranja, ora guaraná, ou leite achocolatado e havia festa, de minha parte, quando ela preparava groselha. A tampa servia de copo que, às vezes era compartilhado com meus amigos.

Também os lanches ficaram em minha memória: sanduíche de queijo, de presunto, da perfumada mortadela ou do salaminho. Ou ainda, bolacha de Maizena com goiabada. Uma delícia! O amor de minha mãe era sentido por mim, em cada recreio, em cada bombom colocado junto ao lanche, em cada Bis. E eles eram embrulhados, lembro-me, às vezes, no guardanapo de pano xadrez, azul e branco, que guardo até hoje, ou também no do mesmo tecido, só que, vermelho e branco. E tinha, ainda o verde e branco, xadrez também.

A hora do recreio era sempre mágica, pois um dia sentávamos todos ao redor da mesa retangular, de cimento, que havia na escola, mesa única, com bancos dos dois lados. Abríamos os lanches e partilhávamos uns com os outros. Quando o recreio era no parquinho, que maravilha! Havia brinquedos de vários tipos e as lancheiras ficavam penduradas em uma árvore, ao centro. Entre o corre-corre e o pega-pega, uma pausa para lanchar. E o amor de minha mãe, misturado com a poesia de uma infância bem vivida, regada pelo carinho de amigos e parentes era observado pela professora que nos acompanhava, perguntando o que havíamos trazido para o lanche e ensinando-nos a repartir com aqueles que demonstravam vontade de experimentá-lo.

Hoje, percebo que o material das lancheiras mudou. As garrafas são térmicas, o zíper tornou-se freqüente. Estão mais encorpadas, muitas feitas com isopor, mas penso que, desde as mais simples como era a minha, até as mais sofisticadas, as de hoje, todas elas guardam sonhos, significados e saudades. Além dos lanches, levam dentro delas lembranças que são únicas para cada um de nós. Sinônimo de alegres brincadeiras, inocentes sentimentos, da primeira professora, das nascentes amizades. Algumas delas, orgulho-me em dizer, conservo até hoje. E por que não pensar que aquela lancheira foi a ferramenta que possibilitou o encontro? Hoje, não partilho mais meu biscoito com goiabada, mas meus sonhos, meus momentos felizes e, algumas vezes, difíceis. E, do mesmo modo em que não recebo um gole de suco de morango, mas carinho e afeição, vejo o quanto um simples e útil objeto foi parte importante e continua sendo significante em minha vida.

Ligia Pezzuto
Enviado por Ligia Pezzuto em 01/03/2008
Código do texto: T882248
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