UM ANEL

Um anel

Eu sonhei que ganhava um anel. A pedra brilhava tanto que clareava meu quarto quando estava escuro. O aro era um bambolê, que me divertia, mesmo sem poder girá-lo na cintura.

De dia o anel era de ouro, de noite ele era prata. Sempre eu tirava do dedo quando ia dormir. Mas, uma vez ao amanhecer, quando fui voltar ao dedo, ele não quis mais entrar. Olhava para o meu dedo e estava da mesma grossura. Olhava para o anel e estava do mesmo tamanho. Fiz aquele esforço, coloquei sabão e ele deslizou. Ao anoitecer fiquei sem saber se o tirava novamente, mas quando fiz menção para me separar dele, achei que ele estava chorando. Não tirei.

Dormi com a mão debaixo do travesseiro para proteger o anel. E ao amanhecer o vi sorrindo. Ele gostou de dormir comigo.

Era um anel diferente. Parecia que tinha alma.

Um dia resolvi conversar com ele. Disse que não me lembrava como ele tinha chegado até a mim. Fiquei esperando uma resposta, mas ele apenas faiscou um raio de luz. A pedra cintilou, como se quisesse emitir uma resposta, mas por ai ficou.

Passava horas a mirá-lo em minha mão. Como ela ficava linda com aquela jóia!

Tinha cuidado com ele, para não ralar, não machucar, para a pedra não cair. Andava na rua com a mão no bolso. Com medo dos larápios.

Um dia no meio da noite acordei assustada. O quarto estava escuro. Nenhum facho de luz. Onde estava o meu anel? Procurei no meu dedo em vão. Fiquei inquieta, triste, desolada. Sentei na cama.

A cortina da janela esvoaçou, ela se abriu lentamente, uma brisa vinha do sul, um moço de branco desceu do cavalo, adentrou pela janela, ajoelhou-se em meus pés, tomou a minha mão, colocou o misterioso anel em meu dedo e seu sorriso era um pedido. Ele nada falou, mas o escutei dizer: “Case comigo, minha doce prenda”. Levou-me em seus braços, até o cavalo voador... Cruzamos o céu... Galopeávamos entre as nuvens... O anel era o guia, tinha a luz de um cometa... Momento único, sensação inexistente, leveza de uma pluma, maciez do algodão era assim o caminho que me levava não sei até onde.

A valsa tocou e fui despertando, abri os olhos, algo cintilando, minha mão tateava buscando o anel. Encontrei o celular. Despertei de verdade, sentei-me na cama. Onde está o anel? Olhei para as minhas mãos, ele nunca existiu. Celular piscava, insistia em chamar atenção. Resolvi verificar a mensagem existente. “Comprei um anel para minha prenda”. No visor uma chamada sem número.

Será que existe o cavaleiro de branco?

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 09/03/2008
Reeditado em 15/05/2020
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