UM LIMITE PARA DEFECAR

Uma mãe conseguiu uma creche particular, num dos lugares mais nobres de uma grande cidade, muito conceituada, para o seu filho de três anos, creche essa, administrada por padres.

Com um contato daqui, outro dali, soube pela sogra dela que o custo mensal era quase de graça.

Que maravilha. As amizades, os contatos, as trocas de informações, as gratidões, as sortes existem, só temos que encontrá-las.

Uma creche particular quase de graça. Administrada por padres.

Isso não é sorte, é um milagre materializado.

Alguém tem que avisar o Vaticano.

Não era. Antes tivesse sido avisado um exorcista ou o Padre Quevedo.

Quando chegou até a creche de primeiro mundo, num dos bairros mais elegantes da cidade, tudo parecia perfeito, até que começou a entrevista com o tal padre administrador da creche.

Ele, parecendo mais um chefe de campo de concentração, olhou friamente para a mãe e disse, com aquele sotaque de alemão de filme de guerra: ”Está tudo muito bem, só tem um pequeno detalhe que precisamos esclarecer”.

Um pequeno detalhe que precisamos esclarecer.

Essa frase esteve presente antes de cada má notícia que atingiu a humanidade.

E apresentou o pequeno detalhe:

“Aqui em nosso campo, digo, nossa creche, para que seu filho seja aceito, com esse desconto que estamos proporcionando, a senhora terá que vir todo o final de semana, junto com o seu marido e limpar todos os banheiros da creche”.

A mãe ficou chocada. Isso é um desconto ou uma pena alternativa? Mas, como precisava muito resolver aquela situação, sem pensar muito, aceitou.

Então o padre continuou: “E tem mais”!

(Mais ainda? - pensou ela).

Aqui em nosso campo, digo, nossa creche, para que seu filho seja aceito, com esse desconto que estamos proporcionando, não permitimos crianças usarem fraldas, pois elas tem que se adaptar de forma mais rápida a usar os meios adequados de fuga, digo, de evacuação”.

A mãe, que já estava apavorada, pensou consigo que até seria uma forma mais didática de ajudar seu filhinho a superar mais rapidamente essa fase. E aceitou.

Mas o pior ainda estava por vir.

Como uma gaveta de crematório aberta, ele incendiou:

“Aqui em nosso campo, digo, nossa creche, para que seu filho seja aceito, com esse desconto que estamos proporcionando, ele, além de não poder usar fraldas, só pode cagar, no máximo, três vezes por dia.

(Acreditem! É um caso verídico. A sorte do padre é que terminou meu espaço, senão eu iria fazer uma festa.)

Sérgio Lisboa.

Sérgio Lisboa
Enviado por Sérgio Lisboa em 16/03/2008
Código do texto: T903114
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