Sentado no banco

Eu vi que o tempo passou, foram anos de aprendizado, muitos erros, poucos acertos, mas que valeram a pena cada um deles.

Hoje sei que não tenho muito mais tempo para futilidades, discussões absurdas sobre as agressões a natureza, às pessoas, aos povos que sofrem calados.

Vi a mudança do século, a globalização e pior a banalização das pessoas, que se esqueceram de como era bom mandar carta pelo correio, levava tanto tempo para chegar a resposta, mas tinha um significado fantástico. Inenarrável sensação ao ver o carteiro trazendo aquela cartinha.

Quantas e quantas cartas trocadas com aquela namorada de fora.

Hoje recebo e-mails de amigos, que na grande maioria correntes sem fundamento algum, ou assuntos que não somam nada, apenas enchem absurdamente a caixa postal.

Era gostoso andar de bicicleta, com vento ao rosto, tomar chuva, pular na grama molhada, subir na árvore para ver lá do alto como éramos pequenos.

Assistirmos as matinês de domingo, e lá as primeiras paqueras.

Sair a noite, era no mesmo dia estar de volta para casa.

Meio século se passou, não é saudosismo, apenas relatos de uma vida bem vivida.

Jogava pelada na rua, ralava o joelho no chão, o dedo na sarjeta, hoje o no play não é a mesma coisa.

Não tínhamos crises existenciais, depressão, dores da vida moderna.

Como era boa a Tubaina aos domingos, aquele frango assado com farofa dentro, hoje ainda tem, mas está diferente, tem outro sabor.

E a manteiga no pão feito em casa, o café da tarde, a corrida a padaria para buscar o pão bengala saído do forno, hoje abre-se a geladeira e tem o pão de forma com margarina.

As crianças viviam soltas, as ruas, não tinha bandido, seqüestro, arma quase não se via.

Voltávamos sozinhos da escola, apenas os amigos fazendo companhia, eram conversas intermináveis, como havia assunto.

Hoje tudo no computador, celular, shopping, quanta coisa mudou, e sinto uma tremenda vontade de ao fechar os olhos nesse banco sentado, ao abrir, não só voltasse todos os pensamentos e sensações, mas que o tempo realmente voltasse.

Para sentir de novo a felicidade de receber uma carta pelo correio e não cartões de crédito, conta de telefone, da net.

Roberto F Storti
Enviado por Roberto F Storti em 19/03/2008
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