DÁ-LHE ZÉ PEQUENO

Jogo difícil e disputado, os jogadores se entregando com ardor à disputa. Um garoto de 34 anos fazendo a diferença e perturbando a jovem zaga do time interiorano. A torcida da capital percebendo o talento e principalmente a garra do atleta que não desistia nunca e enfrentava a zaga adversária de forma tenaz, não se conteve após o primeiro gol marcado pelo novo ídolo. Numa alusão ao filme Cidade de Deus enquanto Paulo Isidoro comemorava seu primeiro gol contra o time de Horizonte o povão não se conteve e passou a chamar seu pupilo de Dadinho.

- Dadinho... Dadinho... ÔÔÔÔÔÔÔÔHHHHHÔÔÔÔ... Dadinho é o terror.....!

E os colegas de time abraçados uns puxando os outros pela camisa em histeria coletiva junto com a torcida.

O jogo prosseguindo com ataques de lado a lado. Lá pelas tantas não é que o arbitro enxergou um pênalti e incontinenti apontou para a marca do cal. Silêncio em noventa por cento do estádio. Era um murmúrio geral enquanto os parcos torcedores horizontinos faziam a festa. Desde o último confronto a torcida do tricolor teve que suportar as gozações adversárias, pois perdera de goleada e aquilo parecia um tormento sem fim. O atacante colocou a bola na marca fatal e com um olhar sorrateiro escolheu o canto onde chutaria. No gol o Tiago ainda não sabia, mas não só aquele momento, mas também o que aconteceria durante o resto do jogo mudaria para sempre seu conceito perante a torcida. Mesmo com os braços longos e a envergadura formidável do arqueiro o atacante não se intimidou e partiu célere para a pelota. Escolheu o canto que lhe parecia melhor e onde decerto o goleiro não chegaria para fazer a defesa. Bateu... e na certeza de comemorar já ia partindo para a torcida quando não acreditou no que viu. A mão e o braço do arqueiro pareciam de borracha... esticados ao máximo foram ao alcance da bola e a colocaram para escanteio. Silêncio na torcida rival. Delirio novamente na torcida tricolor. O segundo gol foi consequência, pois o jovem time do interior sentiu o impacto do penalti perdido. Novamente Paulo... ou melhor: Dadinho, foi implacável e numa jogada de oportunismo fuzilou a meta do adversário em um tiro de misericórdia disparado de baixo para cima e fora do alcance do goleiro. Dois a zero para o Fortaleza.

- Dadinho... Dadinho... ÔÔÔÔÔÔÔÔHHHHHÔÔÔÔ... Dadinho é o terror.....!

Os gritos, a torcida em coro cantando...e as cenas se repetiram no estádio em meio a alegria que voltava com força total. Uma maior presença de torcedores naquela segunda-feira traria um colorido maior a festa diriam alguns, mas o que eles não sabiam é que somente os mais apaixonados pelo time se fariam presente naquela noitada, não deixando de acreditar nunca no resultado que se fazia quase improvável. O maior rival já havia sido eliminado em situação semelhante. A emoção foi multiplicada fora de campo, mas no gramado os atletas passaram a administrar o resultado que levaria o jogo para a prorrogação. Final da partida.

Os jogadores rapidamente se dirigiram aos seus treinadores para um rápido descanso e quem sabe ouvir uma palavra a mais de motivação e a fórmula mágica para conseguir o resultado tão esperado: a classificação para a disputa do turno. No time da cidade grande uma multidão de assistentes se faziam presentes na proporção de quase um para cada atleta com direito a bebida isotônica e tudo o mais.Enquanto isso do lado oposto umas garrafas de coca-cola eram utilizadas, não com o líquido mágico e viciante mas com uma mistura de água da cacimba do Zé do Poço(dizem que muito boa) com melaço de rapadura. Mistura barata e energética.

Os times em campo novamente para o embate final. Dois minutos da prorrogação e adivinhem o que aconteceu: Paulo Isidoro ou melhor Dadinho novamente fuzila as redes adversárias. Dá-lhe garoto. O que era incerto aconteceu, pois em futebol dizem os filósofos que o "jogo só termina quando acaba". Era só garantir o placar que o time da cidade grande estaria na final. Faltavam apenas dois minutos para a classificação quando num tresloucado gesto o goleiro adversário partiu para a área do rival no intuito de aproveitar a bola vinda do escanteio. E a bola veio em sua direção... um amontoado de gente se atirou rumo a pelota... não havia mais técnica, era emoção pura. O goleiro de forma inacreditável conseguiu disputar a bola e num bate rebate danado a bola foi arremessada fora da área, mas caiu nos pés do lateral direito do Horizonte que forma implacável acertou um chute, que decerto nem nos seus maiores devaneios imaginaria que fosse capaz de fazê-lo. A bola foi no ângulo de Tiago Cardoso. Delírio na torcida horizontina. Inacreditável. Emoção demais para os torcedores tricolores que já se viam na final. O turno estava escapando pelos dedos.

E a disputa foi para as penalidades máximas. Cinco tiros para cada um. Nesse instante brilhou mais uma vez a estrela do Tiagão. Defendeu três pênaltis e passou para a galeria dos heróis tricolores daquela noite. O albatroz negro como seria chamado devido a sua grande envergadura, sairia como único salvador da pátria naquela noite não fosse o garoto Isidoro, autor dos três gols do Fortaleza e que machucado havia saído de campo antes do final do jogo.

Festa tricolor... e em meio aos abraços a turma não deixou por menos e passou a chamar o Isidoro de Dadinho.

- Valeu Dadinho... Dadinho... Dadinho... Dadinho!

E o Isidoro não se conteve:

- Dadinho é o caral... meu nome agora é ZÉ PEQUENO.