O fenômeno BBB

Repetitivo, sem conteúdo. Em alguns casos, mau exemplo, como na fatídica declaração de um participante de que "graças a Deus, nunca li um livro". Críticas não faltam ao Big Brother Brasil, que, durante três meses por ano, invade toda noite os lares dos brasileiros via televisão. Por mais repetitivo que seja, ela já está na sua oitava edição _ que termina nesta terça-feira, para felicidade de alguns e saudade de outros. Mas, acalmem-se os fãs: antes mesmo de vocês perceberem, outro BBB estará no ar.

Não quero aqui nem condenar nem fazer apologia ao programa idolatrado por alguns e odiado por outros. Quero é fazer uma simples pergunta: o que tem o BBB que o torna tão atrativo? Qual é a fórmula do seu sucesso? E, embora muitos contestem o programa em si, esse sucesso não pode ser contestado. Afinal, não são pouca coisa os 40 milhões de votos em média nos paredões, muito menos os 60 milhões de votos _ número recorde _ no mais concorrido deles. E isso que nem todo mundo que assiste religiosamente ao programa dá-se ao trabalho de votar.

Apenas para comparação: a soma das tiragens dos principais jornais brasileiros não chega a 5 milhões. E as tiragens da maioria dos livros publicados no país fica entre mil e 3 mil exemplares (nem todos vendidos, saliente-se). Um autor que chegasse na casa do milhão já seria best-seller, disparado. Aliás, mesmo os best-sellers internacionais que vendem 60 milhões de exemplares devem ser pouquíssimos, e isso somando-se todos os países onde são publicados. Quem me dera um dia eu fosse lida por 60 milhões de pessoas...

Tentando responder à minha própria pergunta: o BBB é tão atrativo porque quem o produz já ouviu com certeza falar da fórmula pão & circo, ou seja, que o público quer pão (assuntos sérios), sim, mas também e principalmente circo (diversão, coisas curiosas, diferentes do seu cotidiano). Ok, muitos dirão que o segredo do BBB não é ser diferente, mas sim mostrar um pouco como as pessoas são de verdade nas 24 horas do dia. Será? Todos sabem que o BBB é um jogo, e que ganhar a simpatia do público é a forma de se manter na casa até a final. Ou seja, como alguns participantes cansam de falar, sem totalmente honesto não garante a invencibilidade, em algumas vezes até mesmo define a eliminação.

Também não concordo que as pessoas gostam de "se ver" na TV por meio dos concorrentes. Pode até ser que elas se identifiquem com algum participante e torçam por ele, mas não acredito que seja inteiramente por ele. No meu ver, o que a maioria dos telespectadores se transporta para a casa, para uma realidade que não é a sua. Afinal, por mais desafiador que pareça ser passar semanas e até meses trancado em uma casa sem contato com o mundo exterior, quem não gostaria de passar esse tempo de "férias", com casa e comida garantidos, piscina, academia, mordomias?

Claro, existem desafios, provas de resistência (algumas exageradas, no meu entender, pois passar 12 horas em pé, por exemplo, é cruel), mas o resultado compensa. E não estou falando apenas do R$ 1 milhão de prêmio para o vencedor. A fama também compensa, quem discorda? Mesmo que nem todos virem atores ou modelos, mesmo que a maioria seja esquecida com o passar dos meses (quem venceu mesmo os BBBs 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7? Quem ficou em segundo e terceiro lugares nesses programas?), a fama momentânea sempre ajuda. São oportunidades de receber uma bolada para posar em uma revista, ou um gordo cachê para participara de festas, ou...

Bem, seria possível escrever linhas e linhas sobre o BBB, suas causas e suas conseqüências. Mas quando penso que o que escrevo provavelmente jamais será lido por um décimo do público que assiste aos brothers, me dá até depressão. E não é (só) inveja dos números superlativos do programa: é a constatação de que o público quer muito mais circo do que pão.

Maristela Scheuer Deves
Enviado por Maristela Scheuer Deves em 24/03/2008
Código do texto: T915096
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.