Pobre português

Acompanho com preocupação a possibilidade de unificação da língua portuguesa nos diversos países que falam o idioma. Nada contra que todos escrevam e falem da mesma maneira, talvez isso até facilitasse a comunicação com nossos co-irmãos. O problema é que o português utilizado hoje no Brasil já é tão maltratado que temo pelo que poderá acontecer caso as regras mudem - afinal, se o que foi estudado na escola por anos a fio não foi assimilado até agora, dificilmente regras que surgirão do dia para a noite serão assimiladas. Ou, talvez, quem sabe com a unificação os brasileiros fiquem mais atentos à língua que falam e não cometam tantas barbaridades quanto hoje.

Sim, barbaridades. E não é preciso ir muito longe para conferir a veracidade dessa afirmação: basta abrir a sua caixa de e-mail. Passe os olhos rapidamente nas mensagens recebidas e verá quantas vezes o pobre português é "assassinado". Não estou me referindo a ocasionais erros de digitação ou mesmo um ou outro erro de grafia numa palavra mais difícil; o que você provavelmente vai constatar é uma infinidade de "q", "pq", "bj", "naum" e outros pseudo-neologismos criados não pela era da internet, como dizem muitos, mas pela preguiça de escrever corretamente. Acentos, então, muitas vezes parecem não existir - não me venham dizer que é problema no teclado, pois para isso tem solução. E a regra de que início de frase e substantivo levam a inicial maiúscula? Essa parece que já não existe faz tempo...

Outros, pelo contrário, têm o hábito irritante de colocar palavras ou frases inteiras em maiúscula. No meio do texto, tascam UMA FRASE INTEIRA ASSIM SÓ PARA DESTACAR. Viu como fica horrível? E, além de horrível, errado, pois não há motivo nenhum, nesse caso, para o uso de maiúsculas.

Muitos vão defender essa "linguagem virtual" dizendo que ela se restringe a comunicações informais, entre amigos. Mentira. Quem escreve assim para amigos e conhecidos também vai escrever assim na escola, no pedido de emprego, na carta para o jornal, na correspondência para uma empresa... Com o tempo, nem saberá mais como é a escrita correta (se é que algum dia soube). Ah, e o corretor do computador não resolve tudo, viu?

Além dos erros gritantes e das palavras escritas pela metade, o tipo de linguagem adequado para cada ocasião também foi esquecido. Quando eu era adolescente ainda, aprendi os diversos tipos de correspondência adequados para cada ocasião. Sim, naquela época - e não faz tanto tempo assim - existiam diferenças entre uma correspondência familiar e um ofício! Hoje, há quem escreva para um escritório ou uma empresa começando com "Eu quero tal coisa", sem a formalidade que a situação exige e, claro, sem nenhuma das saudações de praxe (afinal, para que perder tempo escrevendo "Vossa Senhoria" ou "Venho por meio desta?").

Vai ver, é por isso que a leitura de bons livros está em baixa. Afinal, que coisa chata ler quem escreve tudo direitinho... Depois, vêm as notas baixas nas provas e as pérolas nos vestibulares, e ninguém sabe por que levou bomba. Certo, mesmo sem a mudança a gramática da língua portuguesa já é complicada, mas... será que não dá para fazer só um esforço para escrever direito? Tente, vale a pena.

Maristela Scheuer Deves
Enviado por Maristela Scheuer Deves em 25/03/2008
Código do texto: T916210
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