BONS TEMPOS AQUELES

Entre os leitores habituais desta coluna estão as senhoras Lulinha Toledo Arruda Gambarini, Terezinha Toledo de Arruda Galvão, que tem uma história de vida impressionante nos tempos do antigo INPS. Bem como o casal Vera e o professor Milton Fraschetti, um dos incentivadores do meu trabalho neste diário, no final da década de sessenta. Além disso, foi o mestre de inúmeras gerações nos áureos tempos do Instituto de Educação Caetano Lourenço de Camargo.

No início da década de sessenta, em seus dois ou três anos iniciais, o mundo estava começando a se transformar. A palavra jovem surgia aos poucos. O que estava em evidência era o “playboy”, importada dos States, mas aqui utilizada no sentido de adolescente ou moço bagunceiro. Isso, claro, para os que podiam. Geralmente tinham posses, carros e até motos, que estavam surgindo, para impressionar as meninas. E conseguiam, evidentemente.

Quem não tinha condições, seguia o modelo tradicional, sem exageros. Cabelos sempre bem cortados e sapatos engraxados. Aliás, esse era um ritual de todos os sábados. A gente pegava o melhor par de sapatos, geralmente muito bem guardados, na maioria das vezes na cor preta, a escova, a lata de graxa, sentava num degrau da escada do quintal e mãos à obra. Caprichava no lustro para que ficassem brilhantemente impecáveis. Depois ia se barbear, apesar dos primeiros barbudos já existirem, impressionados por exemplos que, ao longo dos anos, mostrou não dar em nada. E o banho, claro. E sem demora, pois o fornecimento de água, na cidade, era um problema.

Tudo isso antes das seis e meia, para poder assistir à primeira sessão, a mais concorrida. E com a melhor roupa. As moças caprichavam no figurino. Nada de tênis. Aliás, eles quase não existiam. O produto mais comum era a Conga, uma espécie de calçado feito de lona, geralmente na cor vermelha, que só era usado para trabalhar. À noite, jamais. As jovens trajavam vestidos com a barra abaixo do joelho, como convinha aos rígidos padrões da época. As calças compridas estavam aparecendo aos poucos e nada de coisa justa, como atualmente. E, cá entre nós, os vestidos, além de elegantes, eram até mais cômodos. Em todos os sentidos!

Os moços, não raras vezes, ainda usavam terno e gravata até para ir à praça, ou seja, fazer o “footing”, aquele saudoso desfile de moças, na Rua Lourenço Prado, naquele quarteirão entre a Major Prado e a Edgard Ferraz, sabiamente impedido ao tráfego dos poucos veículos. As garotas se impunham a uma rígida e tácita diferenciação social. Raras vezes se misturavam. Tudo era dividido entre a calçada de baixo e a de cima. E todas no maior capricho e elegância. Ainda era a época do Gumex e Glostora. Por isso, os penteados dos moços nunca se desfaziam. Alguns cultivavam caprichados cortes. Cabelos cheios era a denominação. Tudo no melhor estilo dos galãs dos filmes românticos.

Naqueles idos, ali na praça, a gente ouvia os saudosos bolerões na voz de Gregórios Barrios ou o som impecável da orquestra de Ray Conniff. Eram mesmo “bons tempos aqueles...