"QUE TAL OS LIVROS ?..."

Faz algum tempo, o Caderno Informática da Folha de São Paulo trazia nas tirinhas, uma história curta, protagonizada por PC e Pixel, respectivamente um "micreiro" e seu gato, onde PC conjeturava mais ou menos o seguinte: "Sabe Pixel, fico me perguntando, qual será a mídia do futuro? No começo os computadores usavam o cassete para salvar os dados. Era muito empírico, aí criaram o disco de 5 e ½ polegadas: perdia muitos dados; depois veio o disquete de 3 e ¼, que foi logo ultrapassado pelo CD e depois o DVD, que parecia indestrutível. Agora percebe-se que a radiação ultravioleta e os dedos gordurosos os destroem. Onde iremos armazenar nossos dados?"

Pixel ronrona e pensa: "...Que tal os livros?"

Com o advento dos computadores de maior capacidade, surgiram as especulações sobre o desaparecimento dos livros. Muitos programas para computadores, antes acompanhados de imensos manuais, deram lugar aos arquivos "Leia-me" e PDFs, onde a economia era o fator principal. Mas os produtores sofismavam que os arquivos eram a forma ecologicamente correta, para contribuírem com a diminuição da derrubada das florestas, usadas na feitura do papel de celulose. Entretanto, os usuários de informática viam nos tais arquivos, os seguintes inconvenientes: necessidade de se encerrar, ou pelo menos minimizar a tela do PC, para lê-los, com idas e vindas cansativas ao manual. Dependendo de como é redigido o texto, letras miúdas e linhas quebradas cansavam a leitura. O tiro saiu pela culatra: para evitar este desconforto, o usuário passou a imprimir os manuais, que eram armazenados em pastas ou grampeados indevidamente, acarretando perdas, danificações e, consequentemente, maior desperdício de papel. Tudo isto sem contar o status que se obtinha, ao se desfilar com o "livraço" à guisa de desodorante, diante dos colegas "micreiros".

Volto à minha adolescência: naqueles tempos, "ganhar uma gatinha" exigia um Dumas, Conan Doyle, Edgar Alan Poe, manuseado displicentemente nos bancos das praças. Mais tarde, o "must" era Drumond, Vinícius, Meireles e Millor.

Hoje pode-se ler de tudo. Existem revistas incríveis. Mas a "tchurma" está passando por uma fase depressiva, onde o transcendental, "místico/goiaboso", tomou conta das cabeças e as "viagens" buscam uma performance sexual irreal, meio "bundchen/peitchen/magrelo/anêmico/fantasioso". E seguem, burricos, sonhando com a ida ao mundo de Disney.

Eu, pessoalmente tenho um amor profundo, libidinoso, com os dorsos de meus livros. Tenho até um alfarrábio, minha preciosidade, que sozinho vale, para mim, toda a minha biblioteca: "Elementos de Psicanálise", do Dr. Eduardo Weiss, editado pelos Manuais Globo,em 1934, tradução do Dr. Dionelio Machado, que trás em sua décima página, um prefácio de um professor emérito do Dr. Weiss. Trata-se, nada mais, nada menos, do que uma cópia fotográfica do prefácio manuscrito pelo Dr. Sigmund Freud.

Depois disto exposto, só me resta, parafraseando o Pixel, oferecer uma alternativa aos jovens, às viagens por drogas (de todo o tipo):

"...Que tal os livros?"

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Márcio Funghi de Salles Barbosa

Crônica vencedora do concurso instituído

pelo Sebo "Dr. Anselmo" de Araras, em 2000.