DIÁRIO DE BORDO

O dedo do pé coça, e, no que depender de mim, vai parar de coçar sozinho, tamanho o meu cansaço. Dia de faxina...

Eis-me aqui, uma mulher do terceiro milênio, em pleno primeiro mundo, no meu segundo final de semana seguido de faxina... Só pode ser TPM... Prá completar, claro, lá fora chove feito um dilúvio e a companhia de telecomunicações experimenta dificuldades técnicas... ou seja... sem internet, sem TV, e sem telefone que não custe uma fortuna, resumindo, eu e o celular – o celular e eu, mas celular é que nem “ex” né... a gente só fala o necessário e olhe lá!

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Ainda me lembro do primeiro dia de incursões neste então novo e hostil, hoje aconchegante micro-universo chamado lar, ou seja, a mudança...

“DIÁRIO DE BORDO: DIA 1: 8000 ZULU TIME (Assiste “JAG”?)

Sem bússola, rumo a Sudoeste, guiando-nos meramente pelo instinto, o mar, o sol, e as placas (claro!), enfim chegamos, eu e meu amiguinho Valter (que escreve Walter pelas mesmas razões que eu digo “Delaila”) e que não é uma bola de vôley que nem o amigo do Tom Hanks naquele filme legal da ilha deserta e que não acaba nunca, muito embora a calvície prematura e em evidente progresso possa sugerir alguma semelhança...

Como manda a lei da sobrevivência, e como tem-se que começar por algum lugar, primeiro a cozinha... o que depois mostrou-se uma má escolha, não só pelo fato de não acabar nunca (igual ao filme), mas mais mesmo pelas diversas formas de vida (ao que me consta não catalogadas (olha que falta faz a internet, poderia verificar e até ganhar um Nobel no futuro, reciclando o conceito da penicilina...)) ferozes e vorazes com as quais tive que me degladiar por horas (e horas e horas...) a fio.

NOTA CIENTÍFICA: Por falta de recursos técnicos e de pesquisa não pude definir ao certo todos os caracteres de tais formas de vida (e como a essa altura já estão no lixão em franca e avançada decomposição, nem vou poder), mas pertencem definitivamente ao reino animal, são extremamente resistentes a água, sabão, limpa-tudo, cloro, bom-bril e paciência, e são, ao menos em tese, asssassinas, carnívoras e mortais, como comprova o fóssil de lagartixa que encontrei embaixo da gaveta de frutas (com frutas frescas de mil novecentos e nada) dentro do refrigerador, absolutamente seco, o que desafia a ciência (não fossem tais formas de vida letais e carnívoras) , pois a falecida deveria estar congelada criogenicamente né, ainda mais ela, bicho de sangue frio... e não seca-esturricada...

Bem, feito o devido féretro e dados os devidos respeitos à finada, ao pão-de-forma vencido em 2006 e a mais umas duas ou três coisinhas que eu preferi não descobrir o que eram, três luvas, duas unhas e os dez esmaltes depois, prossegui minha expedição rumo ao (cada vez mais) emocionante desconhecido...

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O mundo da ciência é realmente fascinante! E não se resume somente à arqueologia das lagartixas fossilizadas ou à biologia dos musgos e crostas nojentos, pois o ser humano, seja por instinto, seja por livre-arbítrio, sempre se supera... e aí falamos da magnífica estrutura celular da gordura, com sua impenetrável carapaça celular que, em cadeia, mais parece um exo-esqueleto de titânio, ou mesmo dos efeitos de mera ilusão de ótica que a repetição de nada complexos atos/fatos, tais como “passos”, podem gerar, fazendo com que nossas certezas da realidade sejam revistas, quando, por exemplo, o chão que se cria “beige” é de fato salmão... muito embora você o veja definitivamente “beige”... E isso é tão complexo que da ótica caímos direto da filosofia, afinal, já dizia o Dr. Christiano, professor de filosofia jurídica lá no meu período mesozóico, repetindo Platão ou sei-lá-eu-quem... : “uma rosa é uma rosa, e ainda que não se chamasse ‘rosa’, ainda assim seria uma rosa...” ...só que com outro nome, arremedo eu berrando: “Mamãe! Mamãe! Mamãe! Abrasou-se a moradeira do Latildo!”, com a certeza pétrea revisitada de que “Marcelo-Marmelo-Martelo” faz muito mais sentido que certas filosofias ditas profundas... mas quem sou eu né, afinal, o finado que primeiro filosofou na rosa fez história, e o segundo a quem aqui me refiro, igualmente finado, tinha um PhD da Usp...

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E por falar em história, à luz da metafísica, entende-se que tudo no mundo vibra (não só vibradores e escovas-de-dentes elétricas), o mundo vibra, o mundo é pura energia em vibração, e as coisas corpóreas só existem (ou a gente tem a impressão sensorial de que existam) e são distintas uma da outra (tipo: o vaso de flores é diferende do seu dedo minguinho) em função das variadíssimas combinações vibratórias entre as energias de coerção, dispersão e uma outra que eu nao lembro o nome, pois a partícula essencial e primeira de todas as coisas (do seu neurônio, de uma pedra ou de um parafuso, por exemplo) seria a mesma, o que, assim como a história da rosa, não faz lá muito sentido em si e nenhum sentido neste texto, mas convenhamos, explica cabalmente expressões tais como “doido-de-pedra” ou “fulano tem um parafuso a menos”... Não concorda???

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Enfim, o fato é que, partindo desse conceito, muito embora as coisas não tenham alma (creio eu) supostamente elas têm memória, e, pior ainda, constatava, são fofoqueiras prá caramba! Portanto, se você tem coisas, desequilibre o campo vibratório e destrua-as antes que elas destruam a sua reputação, ou “case-se” com elas, mas JAMAIS as deixe para trás quando se mudar! Elas se ofendem, magoam, e saem falando de você para o primeiro que aparece! Eu, pelo menos, já sei praticamente tudo sobre o meu senhorio (como se escreve o feminino disso?), incluindo a profissão, o nome de alguns amigos íntimos, o gosto questionável na escolha das cores e modelos de trajes de banho, o sério problema de queda de cabelo, o chulé do cacete que a coitada tem e até o número do sutiã... periga eu reconhecer na rua!!!!

Moral da história: Não deixe rastros e nunca se separe do seu dedo minguinho!!! Alguém devia ter dito isso pro Lula... Pouparia uma fortuna em CPIs aos cofres públicos!!!

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 29/03/2008
Código do texto: T921827