A criação

" No princípio havia o nada e Deus criou céu e terra. A terra estava informe e as trevas cobriam as faces do abismo. Deus, meio cabreiro e cansado de tropeçar nas trevas, resolveu fazer a luz ( sem conta no final do mês porque Ele, muito esperto, inventou o lume mas não criou companhia energética ou conta ao final do mês. Aliás, sequer havia inventado o dia, quanto mais o mês ). No segundo dia Deus resolveu fazer o firmamento e separar as águas que estavam sob o firmamento das que estavam sobre o firmamento porque, como pôde enxergar através das luz que criou, até aquele momento o planeta estava zoneado demais. No terceiro dia Deus resolveu separar as águas num só lugar e, com tanta água represada em alguns cantos, apareceu o elemento árido nos outros. Às águas deu o nome de mares e ao elemento árido chamou de terra. Vendo que a terra seria desértica, resolveu que ela produziria erva verde e árvores frutíferas, cujas sementes sobre a terra, as reproduzisse cada qual de acordo com a sua espécie. Deus, já no quarto dia, resolveu fazer dois luzeiros no firmamento do céu para servir de sinais e orientação bem como para distinguir os tempos, os dias e as noites; Deus fez um luzeiro maior para presidir o dia e outro menor para presidir a noite. Menos trabalho e gasto teria se houvesse criado o relógio com marcador de 24 horas.

No quinto dia, já com o planeta nos trinques, Deus sacou que poderia haver mais coisas para enriquecer a criação, até aquele momento muito paradona, e entrou numa de criar os animais. Criou os peixes e as aves. No sexto dia Deus resolveu criar os répteis e outros animais. Viu, sem nenhum laivo de zoofilia, que isso era bom.

Depois, empolgado com sua vocação criadora, entrou numa de criar o homem. Disse por fim : “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança, e presida ele aos peixes do mar, e às aves do céu, e aos animais selváticos e domésticos, e a toda terra, e a todos os répteis que se movem sobre a terra”.

Deus criou o homem a quem chamou de Adão porém, logo após, sacou que o varão por si mesmo, não se reproduziria e, tal como os outros animais, precisava de uma fêmea de sua própria espécie. Além disso - segredo guardado a sete chaves - Ele já não agüentava mais o trocadilho de anjos engraçadinhos que, quando lhes perguntava onde estava o varão, sempre respondiam entre risos: "Eu vi Adão aqui"; "Eu vi Adão ali" ... Assim, para colocar termo nas sacanagens com relação àquele que seria o ápice da criação, Deus fez cair sobre o homem um sono profundo (estava inventada a anestesia) e de sua costela, criou a varoa. A ela deu o nome de Eva. Quando a mulher estava "saindo da forma" Deus, já sabedor das gozações que os anjos adoravam fazer sobre a criação, jurou mandar para o inferno aquele que fizesse trocadilho do tipo " Eva, coa um café prá mim ! ".

Depois da criação da varoa, e antes que o homem saísse do sono profundo, Deus verificou que não utilizara muito material para a criação da mulher e havia ainda sobras da costela. O que fazer ? Acrescentar onde? Juntaram-se anjos do Senhor dos Céus e começaram a dar palpites. Uns entendiam que a matéria prima deveria ser distribuída por todo o corpo da varoa tornando-a maior. Outros, defendendo corrente contrária, achavam que o acréscimo deveria se fazer em local certo e determinado porque, argumentavam, a mulher, se vencedora a primeira corrente, ficaria alta que o homem e, já naquele tempo, ou melhor, já naquele "antes dos tempos" era ridículo homem baixinho com mulher alta. A segunda corrente foi a vencedora. Faltava agora definir o local em que as sobras da costela de Adão seriam colocadas.

Deus não querendo trabalhar e, ainda, não desejando ser acusado de abuso de autoridade abdicou às suas prerrogativas de Criador, deixando para os assessores angelicais a escolha de onde seria feito o acréscimo. Se na primeira escolha venceu o bom senso na segunda o bicho pegou. Isso porque uns defendiam o acréscimo numa determinada peça anatômica, outros noutra, e assim por diante. A discussão se alongava indefinidamente porque, para cada peça apontada, apareciam defensores e críticos. O pior é que os anjos inventaram uma tal de fidelidade partidária com a ameaça de expulsão das hostes celestiais daquele quer votasse contra a orientação da direção do grupo. Como os anjos, pelo menos eles, não faziam conchavos não conseguiam chegar a uma conclusão. O problema é que a criação do ser humano, consoante o cronograma da tarefa, teria que ser feita naquele sexto dia ( ainda faltava criar vergonha na cara, honestidade, seriedade, respeito, dignidade, competência para exercício de cargos e funções que seriam criados quando o homem estivesse organizado em sociedade, compromisso social, civismo, proteção aos incapazes, preservação ambiental, distribuição equitativa de recursos naturais, postos de trabalho e salários para a humanidade que iria surgir de sorte que a riqueza não se concentrasse nas mãos de poucos....). Deus então propôs que a escolha fosse feita através de votação só que, em razão do adiantado da hora e do impasse intransponível do fechamento de questão pelas hostes celestiais, o voto seria direto e secreto. Com isso permitiu que os anjos e arcanjos votassem de acordo com sua consciência e, em sendo o caso, pudessem mudar seu voto à medida em que a votação transcorresse. Após alguns escrutínios e sem que alguma opção fosse vencedora, por acordo de lideranças foi escolhido que a mulher teria peitos enormes, um bundão e coxas grossas. E Deus, antes que alguém cismasse de recorrer da decisão, se apressou em terminar a mulher. Isso aconteceu ao final do sexto dia.

No sétimo dia Deus, alegando que precisava descansar, não apareceu para continuar a criação. Nem no sétimo, nem nos dias que a ele se seguiram. Percebendo a cagada que fez ao deixar a cargo de assessores sua obrigação legal e constitucional, Ele deu no pé e deixou esse planetinha de merda para o capeta. E nunca mais foi visto por aqui. Nem ele nem a gostosa que criou.

Dario Castellões
Enviado por Dario Castellões em 30/12/2005
Código do texto: T92400