PC FARIAS E O BABYDOLL TRANSPARENTE

3 de junho de 1996... a mulher estava na cama, com seu babydoll branco, transparente, cheio de detalhes frutiferos. De um incrivel mau gosto alagoano. Talvez comprado em alguma boutique em Miami.

Estava amarrada, amordaçada, com os olhos em um misto de pavor e súplica. Estava congelada...não se mexia... os únicos movimentos eram das lágrimas rolando naquele rosto atormentado. Seu olhar dizia tudo... Zulu, piedade!

Ela olhava fixamente a cena em sua frente...

Seu amante... de joelhos, chorando, suando frio... e eu... em pé, com a arma apontada entre seus olhos. Bem na zona do labirinto. Com o silenciador encostado naquela careca oleosa e suada. Ele dizia tudo e nada... "Zulu...não faz", "te pago o dobro", "pela nossa amizade"... com aquele sotaque nordestino de doer os ouvidos.

Porra... fiquei pensando... o cara vai morrer daqui a alguns segundos... e a única coisa que vem na sua cabeça é dinheiro e suborno... tem mais é que levar chumbo, mesmo!

- PC... cala a boca... economiza o verbo!

Puxo o gatilho. Um tiro, seco... no labirinto. O gordo cai no chão.

Olho para a mulher, Suzana. Ela arregala os olhos. Para de chorar. Atiro certeiramente em seu peito. Ela desaba na cama, ainda de olhos abertos.

Coloco os dois lado a lado na cama, desamarrados.

Vou embora... afinal estava atrasado para o jogo do Inter.

No dia seguinte a conclusão da policia alagoana foi de nenhuma surpresa:

"Os corpos de PC e a namorada Suzana foram encontrados. PC Farias estava deitado de lado, sobre o braço direito. Depois de atirar no namorado, Suzana Marcolino sentou-se na cama e deu um tiro no próprio peito, com um revólver calibre 38 comprado por ela mesma, com ajuda da prima Zélia Maciel".

Perfeito!

Tudo começou em 1990 quando Fernando Collor de Mello toma posse como Presidente da República e faz a grande besteira de ir contra as diretrizes da Organização, tomando estúpidas decisões e formando a conhecida "República Alagoana". Isso foi como ato de guerra para a Organização. Collor pensava que uma vez no cargo de Presidente, poderia fazer o que quisesse e como quisesse. Afiliou-se a Máfia italiana para financiar suas maracutaias através de seu tesoureiro PC Farias. As coisas estavam tão fora de controle que já em 1991, apenas um ano após sua posse, surgem as primeiras suspeitas de compra superfaturada durante a administração Collor. As superintendências da LBA de São Paulo e do Amazonas detectaram indícios de compras superfaturadas de cestas básicas. Sob acusações de irregularidades, a presidente da LBA, primeira-dama Rosane Collor, abandona o cargo na entidade filantrópica.

A Máfia italiana já estava cobrando atitudes, as loucuras de Collor estavam expondo os negócios.

A Organização me liga:

- Zulu... não dá mais! Máfia, Collor, PC... "tá" ficando ruim! De um ponto final nisso!

No dia seguinte pego um vôo para a Itália. Iria me encontrar com meu amigo Massimo Calabrese, no mesmo lugar de sempre... em uma taverna chamada "Gruta Azule", conhecida pelos locais pelo saboroso fettuccine com lingüiça da Mamma Juliana.

Ao chegar la... Mamma Juliana me recebe com o carinho de sempre, me enfia um tapão na cara e diz:

- Zulu! "Que merda estas "facendo"?! Que saudades! Me abraça com aqueles grossos braços de mamma italiana e me encaminha para a mesa de Massimo.

- "Ciao" Zulu Zumba! "Que se diche?!" disse o simpático Massimo, já com um vinho tinto na mão.

- Massimo... que "tá" pegando?

- Zulu... PC esta devendo 10 "milione" de dólares para "noi". Estamos impacientes... "capisce"?! Estamos ficando expostos com tanta roubalheira. Um dia vão chegar a "noi". E isso não podemos permitir. "Capisce"?

- Massimo... deixa comigo. A Organização também não quer nenhuma exposição. Vamos fazer o seguinte: a Organização paga os 10 paus para vocês. Vocês caem fora e deixam o campo liberado para nós. Assim poderemos limpar esse "merderê" da nossa forma... "capisce"?

- "Accordato! ... Salute! Fratello Zulu!" - disse Massimo erguendo sua taça de vinho.

- "Pódi creri"!

Já de volta ao Brasil... vou direto para a casa de Pedro.

- Pedro... a Organização não esta gostando nada dessa mídia. O teu irmão vai acabar atraindo a atenção para os nossos negócios. Tens que acabar com isso!

- Porra Zulu... eu não posso ir contra o meu próprio irmão!

- Para com essa palhaçada! Nessas horas não existem parentescos. Tu sabes muito bem o que deves fazer. E também sabes o que pode acontecer caso não resolvas esse problema!

Pedro Collor vai a imprensa e acusa PC Farias de ser o "testa-de-ferro" do presidente. A partir disso, o Congresso Nacional instala uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no dia 1º de junho de 1992 para apurar os negócios de PC Farias no governo Collor.

Pedro depõe à CPI em 4 de junho, e acusa PC Farias de montar uma rede de tráfico de influência no governo, com a conivência do presidente. No mês seguinte o motorista de Collor, Eriberto França, vai ao Congresso e confirma os depósitos de PC Farias para a secretária do presidente, Ana Acioli. No mesmo mês, França declara à revista Isto É que PC Farias pagava as contas da Casa da Dinda.

Pronto! Feita a merda! Comoção nacional, povo nas ruas exigindo a saída de Collor, falcatruas são apuradas e denunciadas. Estima-se que todo o "Esquema PC" envolveu 2 bilhões de dólares.

O jornal norte-americano The New York Times comenta em editorial a situação política brasileira sob o título "Lágrimas pelo Brasil".

29 de dezembro de 1992 - Começa o julgamento de Collor no Senado. O Presidente renuncia por meio de uma carta lida pelo advogado Moura Rocha no Senado, para evitar o impeachment. No dia seguinte por 76 votos a favor e 3 contra, Fernando Collor é condenado à perda do mandato à inelegibilidade por oito anos.

Collor se exila em Miami, vivendo de uma das contas do "Esquema PC".

Pronto! O cara se foi! Vai ser substituído pelo Itamar. Fazer o que?!

Vou ao encontro de PC.

- PC, acabou! Eu te disse que ir contra a Organização era a maior furada! Cai fora em quanto e tempo! Mas te digo uma coisa...Bico calado!

PC não fala nada. Olha pra mim... seca o bigode... e com a cabeça, faz um sinal de positivo.

Com a prisão preventiva decretada, PC Farias foge do Brasil, em Julho de 1993, num bimotor acompanhado pelo piloto Jorge Bandeira, seu sócio na empresa de táxi aéreo Brasil-Jet. A rota de fuga começa em Ibimirim (PE), com escalas em Bom Jesus da Lapa (BA), Dourados (MT) e Assunção, no Paraguai, até chegar a Buenos Aires, na Argentina. Depois vai para Londres e só e pego em novembro do mesmo ano em Bangcoc, na Tailândia. Em dezembro de 1994, o Supremo Tribunal Federal (STF) condena PC Farias a sete anos de prisão por falsidade ideológica. Mas fica pouco tempo em cana... em 1995, STF concede liberdade condicional ao tesoureiro da campanha de Collor.

Logo depois... é exibido o programa SBT Repórter em que PC afirma que Collor tinha conhecimento de todas as suas atividades na campanha.

Porra! Falei pra esse gordo de merda ficar quieto!

No mesmo dia, a Organização me liga:

- Zulu... já sabes que tens que fazer.

Bom... meses depois, la estava eu... e a mulher na cama, com seu babydoll branco, transparente, cheio de detalhes frutiferos. De um incrivel mau gosto alagoano. Talvez comprado em alguma boutique em Miami.

Zulu Zumba