O RESGATE DE VELHAS IMAGENS

Esta coluna é lida por Oswaldo de Campos, o casal Tadeu e Darci Aparecida Liduena Ferini. Como eu e muita gente, eles já repararam na interferência da música em nossas vidas, mesmo sem querer. Pois é. Do simples “Parabéns a você” à solene “Marcha Nupcial”, passando pelas cantigas de roda que ainda podem ser ouvidas de vez em quando. A televisão já mostrou comercial com a valsa “Danúbio Azul” anunciando simples papéis higiênicos, até os belíssimos acordes da “Primavera” do italiano Vivaldi, para falar de sabonetes. O moderno Richard Strauss ficaria quase esquecido se o cinema não tivesse incluído parte de sua sinfonia na abertura do filme “2001, uma odisséia no espaço”.

A minha geração, por exemplo, cresceu ouvindo rádio, no final da década de quarenta e nos anos cinqüenta, pois a televisão ainda era coisa de cidade grande. Naqueles idos, as emissoras tinham programas selecionados. Tocavam clássicos, inclusive. Quem não se lembrar disso pode perguntar ao Alides Fabris, uma enciclopédia sobre o assunto. Ele contará muita coisa sobre a época em que se ouviam grandes orquestras como Roberto Inglês – que era brasileiro- Mantovani, Glenn Miller, Lyrio Panicalli e Léo Peracchi, entre outros. Já em meados dos anos cinqüenta, com a chegada dos discos de vinil de longa duração, surgiram os mais modernos: Ray Conniff, Bert Kaempfert, Simonetti, Paul Mauriat e Franck Pourcel. O modernismo, implacável, baniu o som desse pessoal das rádios. Mas estão todos lá, na rede eletrônica, para quem quiser ouvir.

Alguns leitores até poderão perguntar o porquê desse enfoque. É que, daqueles tempos distantes restaram sons que, de vez em quando, teimam em vir à lembrança, resgatando imagens já amareladas, mas inesquecíveis. É que a gente gosta de relembrar os tempos de cabelos pretos e muita saúde. Assim, outro dia ouvi, sem querer, uma voz quase esquecida, a de Malcoln Roberts, cantor americano que fez sucesso mais ou menos na mesma época que o brasileiro Maurício Alberto, que um dia se tornou Morris Albert. Acho que nem mesmo o Celso Pollini se lembra dele. Ele gravou uma versão inglesa para “Não pensar em mim”, imortalizada pelo italiano Cláudio Villa. Essas e outras melodias embalavam os nossos primeiros bailinhos, inclusive os domésticos, regados a Cuba Libre. É, naqueles idos acreditava-se piamente que nome do drinque seria uma realidade. Isso nunca aconteceu. Aliás, muitas outras coisas ficaram só nas palavras. Como se diz atualmente, aquilo tudo foi uma espécie de publicidade enganosa.

Era um tempo inocente? Era sim. Talvez, por isso mesmo, tenha se tornado inesquecível. Quando a gente conseguia dançar de rosto colado era uma vitória. Coisa difícil. Às vezes, quase impossível. E nas mencionadas brincadeiras dançantes, os pais ficavam ali, na total vigilância, para ninguém ultrapassar o que chamavam de limites. E, como entre os meus amigos eram poucos os que dançavam bem, o negócio era aproveitar as músicas mais lentas, quando enganar ficava muito mais fácil, além de romântico, obviamente.

É assim que a música interfere em nossas vidas. Faz, sem querer, “o resgate de velhas imagens...”