João que só ouve não

João, carpinteiro, já de meia idade, marido de Maria, pai de cinco filhos ainda menores, mora no subúrbio da cidade com sua família e, nenhuma novidade, João é um desempregado.

O relógio toca, João desperta para mais um dia, ele tem que conquistar um emprego. Às seis da manhã, Maria está de pé fazendo café para o marido tomar, João foi comprar pão com algumas moedas.

Às sete ele está pegando um ônibus, são duas horas de viagem até os destinos, ônibus lotado, mais da metade dos passageiros em pé, João chega aos destinos: uma construtora de objetos de madeira, uma padaria, uma loja de materiais para construção ... mas sempre a mesma resposta, um sonoro "não".

Já passa do meio-dia, João senta num banco da praça, fecha os olhos e sente os raios do sol no seu corpo encharcado, cansado, com fome, deita-se no banco por uns minutos para depois continuar a sua jornada. Uma pessoa passa e joga uma moeda em direção a ele, João dá um sorriso, sabendo com quem foi confundido.

Ele pega a moeda e prossegue o caminho, vai a outros lugares e, esgotado do não, pára um pouco em frente a um rio; junto com o rio se encontra o sol, ele olha aquela imagem e não entende porque tanto "não", com a vida lhe dizendo sim.

O espetáculo do sol acaba, e João se lembra de voltar pra casa, ele tem que pegar o metrô e por último o ônibus; afinal, a mulher e os filhos esperam novidades, e como acontece todos os dias, João não sabe como dizer que a notícia é um sonoro "não". Mas nesse dia seria diferente, ele voltaria para casa com uma moeda no bolso.

Ana Nery.

2003