RODAS DE FOGO - É TRISTE DE SE VER...

É um problema social, nacional, sempre perceptível, porém às vezes indiferente, já que temos tanto o que fazer, já que temos que correr para o trabalho, buscar os filhos na escola, estudar, comprar, enfim, tanta coisa para "se preocupar".

As chamadas Rodas de Fogo, são reuniões de homens, na maioria jovens, entregues ao vício da bebida. Em minha cidade têm muitas. É deprimente olhar e principalmente passar perto todos os dias e ver a vida desses seres humanos se acabando lentamente.

Se reúnem em grupos, de seis, sete ou mais, que saem pedindo dinheiro, como mendigos, juntando as moedas para encherem as "pet´s" com o barato e alucinante aguardente de cana; - sim - este mesmo, que é vendido nas prateleiras dos botequins, mercearias e nas gôndolas dos grandes supermercados.

Esses homens (é rara a presença feminina), passam o dia bebendo, revezando-se na busca por mais uma garrafa, sem trajetória nenhuma, sem vontade de fazer outra coisa senão entorpecerem-se com o potente líquido transparente.

Sem contar que quando a Roda de Fogo não arrecada dinheiro para comprar pinga suficiente para todos, vão até o posto de gasolina e mandam encher a garrafa com álcool combustível, que é degustado puro ou com limão, acabando com o organismo desses pobres homens que não mais têm controle sobre o vício.

O que realmente serviu de motivação para escrever esse texto, foi que noutro dia, vi um garoto de mais ou menos dez anos, parando sua bicicleta próximo à Roda e experimentando o que eu acredito ser o seu primeiro gole, o primeiro, que para um moleque de dez anos, pode ser só um, de uma série de outros que ele nunca irá conseguir contar, e que poderá vir torná-lo um dependente e mais um componente de um desses grupos. E que como eles, um dia sairá do convívio familiar, não terá onde dormir, não conseguirá trabalhar e nem estudar, não tomará banho, não frequentará médicos ou dentistas, sem força de vontade para viver ou no mínimo forças para renunciar à bebida.

A Polícia às vezes chega, bate em alguns e dispersa a Roda, porém, logo estão de volta, pois pedir não é crime, beber também não; e eles são protegidos pelo Direito de Locomoção ou de Ir e Vir, como é mais conhecido.

Existem organizações, como o CEREA, e a Associação Lar, que ajudam na recuperação, porém, a vontade da cura tem que partir do viciado e não da instituição de apoio.

Enquanto isso, a bebida que é vendida livremente, tira mais e mais pessoas do convívio social, muitos chegam como andarilhos e pedintes e integram a Roda de Fogo, sujeitando-se às suas leis, e à tarefa diária de pedir, repartir e beber.

Rodrigo Soares Borghetti (Borgha)

BORGHA
Enviado por BORGHA em 07/04/2008
Reeditado em 16/07/2008
Código do texto: T934947
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