Chato organizacional

Toda empresa tem um chato. Na verdade chatos. Uns em maior e outros em menor grau, mas nunca deixando de ser chatos. Os chatos aparecem do nada para contrariar o que as pessoas dizem. Estão sempre por perto para largar uma frase motivacional do estilo:

- Xiiiiii. Isso não vai dar certo!

A intenção do chato é contaminar com sua chatisse a equipe inteira. Muitas vezes o chato é o chefe. Sim, eu disse chefe e não líder. Chefe é aquele que manda e não pede e acha que quem tem juízo deve obedecê-lo cegamente sem pestanejar. O chefe é aquela pessoa retrógrada de cabeça fechada que se sente numa posição superior e que por causa disso pode pisotear e tripudiar em cima das criaturas que trabalham para ele.

Alguns chatos ficam em silêncio pelos cantos só observando o que os colegas estão fazendo para depois falar para o chefe que a equipe do setor tal estava falando dele. Outros chatos ficam sérios enquanto todo mundo ri. Os chatos não acham graça de nada e estão sempre criando polêmica por motivos banais. Se bem que tem alguns que acham graça de tudo e ficam tentando fazer a gente achar engraçado as tosquices que ele diz.

Existem chatos que prolongam as reuniões chatas onde não se decide absolutamente nada porque o chato começou a causar burburinho e manifestações durante a apresentação do palestrante. O chato levanta a mão e começa a divagar sobre a posição da empresa em Marte durante o apocalipse de 2012.

Acho que tive contato com chatos em todas as empresas que trabalhei na vida. Pelo menos um chato se atravessou no meu caminho desde 1996. Acho que o pior deles foi um chato cujo pai era o dono da empresa e ele se achava no direito de dar ordens para todos os colegas de trabalho por causa disso enquanto ele não fazia absolutamente nada lá dentro. Detalhe: Ele pedia para que os colegas fizessem coisas particulares, como ir ao banco para ele ou buscar o carro na lavagem.

Noutra empresa o chato era o dono da loja que além de chato era uma anta de tão burro. Estava sempre reclamando de tudo e de todos, como se o mundo estivesse contra ele quando na verdade ele era tão azedo que sua acidez envenenava a si próprio. As pessoas riam da cara dele o tempo todo e faziam de tudo para mudar de emprego.

Tem aquele chato que vive mostrando os bens materiais que ele comprou e se exibindo o tempo inteiro com tudo que envolve dinheiro. O chato mostra o carro novo, a roda nova, o DVD novo de dentro do carro novo. Depois ele começa a falar de suas viagens e de tudo que adquiriu durante o passeio. Se pudesse colocaria um holofote em cima da marca da calça para que todos vejam que é de griffe. O chato olha para os lados para verificar se terá platéia suficiente para ele abrir a pasta e mostrar o laptop novo como se fosse por acaso. Critica os colegas quando escuta que o jantar de confraternização será uma galinha com arroz porque acha totalmente cafona. Na verdade, as pessoas já escolhem um espinhaço de ovelha com mandioca só para ver se o chato não vai, mas ele sempre acaba indo. Não adianta. O chato surge do nada mesmo quando você acha que ele se deu conta de que é um chato e poderá estar ofendido por isso. Ele não se ofende. Ele vai e volta. Ele gruda. Ele reaparece. Ele é um chato!

Chato é um saco! A gente sempre tenta escapar dele, mas ele está sempre rondando por perto e arrumando desculpas para mostrar que está trabalhando e os outros colegas não. Ele normalmente se compara com as outras pessoas e observa mais a vida dos outros do que a sua própria vida.

Em lugares como a câmara de vereadores e deputados, por exemplo, a gente vê muito chato querendo mostrar serviço com motivos banais. É um festival de chatos puxa-sacos falantes pra tudo que é lado. Nunca conseguiria trabalhar num ambiente assim. Acho que a chata seria eu, que não acharia graça de nada e daria o contra em tudo que eles falassem quando percebesse que seria só para se promover aos olhos do povo. Mas que mania de ficar criticando as pessoas. Que mulher chata! Eu hein...

* Texto extraído do blog esconderijodarenata.blogspot.com

Renata Miranda
Enviado por Renata Miranda em 11/04/2008
Código do texto: T940829
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