UMA GERAÇÃO SEM LIMITES

Já faz alguns anos que trabalho em escolas da periferia de nossa cidade. E através das experiências vivenciadas no trato com jovens e adultos, me sinto credenciado para escrever essa crônica e com o teor nela inserido, pois, além de ministrar aulas, desenvolvo atividades culturais extra-sala de aula (projetos de violão e dança) e ainda me faço companheiro, acompanhando o dia-a-dia desses jovens.

E é através dessa vivência que venho, infelizmente, presenciando a decadência dos valores morais, principalmente, os relacionados ao convívio familiar e, especificamente, as atitudes da libido. É cada vez mais epicena e cada vez mais prematura a relação dos jovens com essa questão. A banalidade como é tratado esse assunto, impressiona. Parece que há uma necessidade premente de se iniciar no ato sexual e poder sair dizendo aos colegas que já não é mais casto. Degradante ver jovens em idade tenra ainda, que não conhece como funciona o seu próprio corpo, se pabular dizendo que já esteve em motel, fez isso e aquilo e, que, para “ficar” com alguém é preciso o “ficante” cheirar a gasolina.

Infelizmente – e não estou sendo nem um pouco exagerado no que estou dizendo – essa realidade é comum entre eles e as relações sexuais praticadas, comentadas de forma explícita, sem o menor constrangimento. O pior é não poder educar, já que a independência começa a partir do lar, onde os pais (quando há na família pai e mãe) não têm mais controle e o respeito dos mesmos. Já vi, perplexo, menor mandar a mãe se calar e dizer que “quem manda no meu corpo sou eu! Vocês não têm direito sobre ele e muito menos no que faço!”

Verdade. Verdade também as conseqüências advindas dessa falsa independência sexual (como se é independente sendo menor de idade, morar com os pais, não trabalhar, não conhecer seu corpo, não procurar se prevenir?): gravidez precoce e a mãe para cuidar, não dela, mas dela e o filho, pois o rapaz (na verdade, os rapazes) não assume e até chega a dizer que “ela não era mais de nada”. Esse é o futuro delas. E deles.

Porém, o que me preocupa ainda mais não é a questão da gravidez precoce, sem planejamento, onde apenas é gerada uma vida (que não tem nenhuma garantia de futuro) e onde não há o compromisso desses jovens em assumir essa criança que está nascendo. Mas, o que me preocupa são as conseqüências desses atos impensados, em colocar num ambiente desestruturado, vidas. E vidas que não serão devidamente acompanhadas e que serão jogadas de qualquer maneira no mundo, assim como, elas mesmas.

E tem mais uma coisa: outro dia eu estava presenciando uma conversa de um grupo de jovens que estavam falando abertamente em sexo, sem o mínino cuidado com o vocabulário e fui percebendo que o conteúdo estava ficando cada vez mais vulgar. Adverti-os para eles terem mais cuidado com as palavras, orientando-os a procurarem estudar sobre o assunto, pedirem orientações no posto de saúde e não se deixarem enganar por aparências, por pessoas que andavam em cima de motos ou dirigiam carros.

Em determinada altura, só por curiosidade eu perguntei a uma delas, que estava grávida, se o rapaz ia assumi-la e colocá-la em uma casa, casando-se com ela. A resposta foi impressionante: “- Nada! Não é a primeira que ele faz isso. Comigo já é a sexta”. Isso me abriu a curiosidade para perguntar quem era o rapaz e, aos poucos, fui traçando o perfil desse jovem, que se encaixa perfeitamente nos outros perfis de outros jovens que engravidaram outras jovens na comunidade.

O resultado disso é a multiplicidade de laços consangüíneos gerados por apenas um jovem que vai engravidando as mocinhas e colocando no mundo crianças que irão crescer, muitas irão se conhecer – outras não –, poderão até namorar e casar, e jamais irão saber que são, por exemplo, irmãos.

E isso é preocupante. Daqui a pouco teremos problemas com essa nova geração, filhos desses jovens que, impensadamente, estão colocando no mundo, de um mesmo pai, várias crianças, em vários bairros diferentes, sem o mínimo de controle por parte das autoridades de saúde.




Obs. Imagem da internet



Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 13/04/2008
Reeditado em 04/12/2011
Código do texto: T943646
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.