Crônica de chuva

Logo cedo

Por: Soaroir Maria de Campos

14 de abril/2008

http://socronicas.blogspot.com/

Ainda dormem os "tropegantes" na breve aragem de outono, enquanto a sisuda e silenciosa manhã de segunda-feira digladia com o raio e o trovão na alcova do céu anuviado.

Todos ainda dormem, menos eu aqui na rede enquanto a chuva banha o ainda silencioso asfalto desta metrópole sobressalteada de esperança por um dia sem fumaças, motores e violências.

Timidamente roncam ao longe as engrenagens competindo com os primeiros gorjeios da natureza.

As plantas me caçoam com os pingos antes tímidos que se avolumam em gargarejos da tormenta que por aqui desaba. A luz não cessa. Ela persiste, reprisa e se aproxima com os trovões e a chuva que aperta.

Sem pôr de lado o matreiro ludibrio de poeta eu viro pássaro entre as nuvens carregadas. Tiraram a tampa do céu... Penso nas ribanças, nos “barranqueiros” e em suas casas soterrando-se, alagados terreiros e no trânsito parado e outros enguiçados nas águas correntes dos bueiros; nos pontos os que marcam um ponto para defender irreais 415 de mínimo, máximo para sobreviver até a outra segunda-feira.

Ainda faltam dez para eu acordar dessa chuva torrencial que cai às seis. Como espelhos, persianas e janelas aos poucos uma a uma deixa a luz passar. Silhuetas indecisas estendem os braços e experimentam o tempo.

Lá vai um cobertor. Entre PETs um mendigo na enxurrada encharcado atrás de sua relíquia conseguida entre os sobejos do domingo.

Chove “cats & dogs” por aqui no alto da Paulista.