Ver é algo mais do que olhar

O homem sozinho, vestia branco. Até seu cabelo é branco embora ainda aparente ser jovem... está sentado numa mesa de canto no restaurante onde eu, também sozinha, me encontro jantando. Já estava terminando minha refeição quando ele chegou e aprisionou minha atenção. De onde eu estou posso observá-lo à vontade sem que ele me perceba, e deseducadamente eu percrusto seu rosto, seus gestos, seu tempo... Vejo os olhos do homem, a boca do homem, a testa do homem, as mãos do homem... seu controle, sua serenidade, seu apetite. Sim, esse homem é alguém capaz de enfrentar a vida - ele tem o olhar de quem vê as coisas; tem mãos de quem realiza coisas; tem boca de quem degusta a vida, e ama. Tendo terminado minha refeição, resolvo partir, mas nunca vou esquecer a forte impressão que a figura desse homem me imprimiu, porque nele eu vejo um anjo bom. Mas, continuo a pensar: e se esse homem fosse um assassino? Eu ainda o veria da mesma forma? Não sei se conseguiria, mas certamente eu veria a conduta dele. É difícil separar o homem da sua conduta, e acabamos por condenar o homem ao invés de perdoá-lo e condenarmos apenas a sua má conduta, que pode ser corrigida. Ver é algo mais do que olhar pois necessita dos olhos e do coração.