ADEUS

Esculpe as pedras, desencaminha os rios, amiúda as cidades e apaga as pessoas, o Tempo.

- Era Picos tão mesquinha, pequena e suja ? Não, ele assim a fez. Dizia-me para mim mesmo.

Nossa casa ficou pequena, encolhera, não cabia tanta gente !

A Matriz onde fiz minha Primeira Eucaristia envelhecera mais que o padre que ora celebra este ofício.

A escola em que estudei, antes um templo espalhando crianças uniformizadas pela pracinha , agora é aquilo, transformada em museu de coisa alguma. Meus amigos de recreio, por certo, agora trabalhariam no comércio.

Mesmo a distância até a Capital parecia imensamente maior quando mamãe pesarosa me conduzira ao Colégio Agrícola de Teresina lá me deixando.

- Fica com Deus, meu filho !

Ana, minha irmã, era frágil ? Chorando assim à toa, à toa ?

- Marconi você é bobo ! Você será feliz: estudar em Teresina, outro mundo. Dizia-me enquanto esperávamos o táxi que me levaria ao terminal rodoviário. Agora me recebia em soluços, certo de que sentia pena de mim, percebera a distância em que meus olhos se banhavam.

Mesmo Zé Luiz um menininho há três anos, hoje trajando seriedade, um homem consumado aos doze..

O dobre do sino não era tão dolorido. Confundia-se com o da escola e o da companhia de gás.

O Tempo é outro nome que damos à Morte.

Reflexão que eu fazia... Aos dezenove anos... Entre lágrimas de fogo enquanto levava ao campo-santo o corpo em bálsamos de meu pai.

Marconi Barros
Enviado por Marconi Barros em 19/04/2008
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