Maldita viagem

Depois de uma semana estressante, enfrentando o transito infernal e a correria do dia-a-dia numa cidade que não pára, finalmente chegou o tão esperado final de semana prolongado!
Num esforço sobrenatural, fui buscar no fundo da alma o ânimo... fiz as malas e segui rumo ao litoral para aliviar a tensão e esquecer a solidão.
Já era madrugada quando peguei a estrada, quase não acreditei, ela estava livre! O céu estava cinza, não se viam mais as estrelas. Não demorou muito, o dia raiou, o sol vinha tímido, esforçando-se para dissipar a espessa neblina fria da Serra do Mar, tão fria e inesperada quanto a tristeza que me acompanhava!
Eu queria pisar fundo, correr até não poder mais... Queria voar naquele tapete de asfalto na tentativa de deixá-la para trás. Inútil tentativa! Quanto mais eu corria, mais sentia a presença dele... Quanto mais eu aumentava o som do carro, mais ouvia a sua voz ecoando o triste adeus! Diminui a velocidade ao avistar as primeiras paineiras-vermelhas que, maquela época do ano, já haviam deixado sua folhagem, dando lugar a belíssimas flores vermelhas. Parei o carro no descanso, atravessei a pista ainda úmida para colher um ramalhete, quando avistei uma orquídea-rainha-da-serra...Meu coração disparou! Orquídea é a minha flor preferida, e ele sempre me presenteava. Não contive as lágrimas que despencaram face abaixo, como a cascata que descia ao lado! Em cada soluço, sentia o pulsar do meu coração dilacerado, em cada movimento meu, sentia-o inflamado gritando a dor da saudade! 
Maldita viagem, fez-me sofrer ainda mais! 
Retornei o carro e voltei para casa...