O poder a todo custo

Esta semana o presidente, acompanhado de alguns fiéis escudeiros, entre eles a ministra Dilma Russef, esteve em Belo Horizonte. Não havia nenhum motivo que justificasse essa presença.

O pretexto foi para lançar obras do PAC, que é uma sigla ridícula. Tudo o que o governo pretende fazer até o final do seu mandato foi listado, orçado de alguma maneira e reunido sob essas três letras. Mas não só obras do governo. Incluem investimentos de empresas de controle governamental que, como qualquer empresa que se preze, tem os seus planos de longo prazo. Como os governos também deveriam ter.

Com mais essa estratégia para enganar os incautos, chegou-se a uma cifra de mais de 500 bilhões de reais, para serem investidos em três anos. Claro que é u'a maneira sutil de iludir o povo essa de criar uma sigla, como se isso fosse algo místico, quando não passa de um simples arrolamento de obras a serem executadas, se é que vão ser,

para dizer que há um plano de governo. Na verdade, o verdadeiro plano de governo consiste na sua própria permanência no poder.

O presidente tem ido aos mais diversos municípios brasileiros para a mesma finalidade. Se ainda fosse para inaugurar obras, a presença do presidente e de seus protegidos até que teria algum sentido. Acontece que essas visitas não passam de movimentos para conseguir votos para as eleições de outubro próximo.

Em Belo Horizonte, entretanto, a super ministra cometeu um ato falho, ao discursar para uma platéia que provalvelmente nem sabia o que estava acontecendo. Ela disse, claramente, "este comício", em meio a outras palavras que pronunciou e que recebeu os aplausos daqueles que são arrebanhados para comparecer a um evento completamente desprovido de conteúdo. Tudo isso é um teatro para fazer da figura do presidente um "pop star", nos moldes em que fazia quando subia nas carrocerias de caminhões para instigar greves.

O ato falho foi a única coisa que se pode aproveitar do discurso de palanque. Revelou, insofismavelmente, o verdadeiro motivo dessas visitas aos municípios por esse Brasil afora. O presidente está, desde já, fazendo descaradamente campanha política, contrariando preceitos da legislação eleitoral.

A turma que tomou conta do governo não tem o menor escrúpulo em seu PPPAQC (Projeto de Permanência no Poder A Qualquer Custo). Esta é a sigla verdadeira que o povo deveria perceber no comportamento dos atuais e, para o bem do Brasil, passageiros ocupantes do poder executivo.

É dose para cachorro suportar um governo incompetente, presunçoso, prepotente e agente dos maiores escândalos já ocorridos neste país, beneficiando centenas ou milhares de apaniguados em detrimento da população que, passivamente, vai sendo conduzida rio abaixo, como acontece com os detritos oriundos de todos os esgotos (quando os há), até alcançarem o seu destino final no oceano.

Será que caráter se encontra à venda? Se sim, sugiro ao governo que faça uma encomenda urgente, sem licitação, e compre todo o estoque para distribuir entre seus correliginários, reservando para o próprio chefe uma boa porção. Se houver também algum elixir que induza quem o consuma a desenvolver um pouco a auto-crítica, todos os estoques disponíveis no mercado deveriam ser confiscados, assim como alguma pílula milagrosa capaz de curar a incompetência generalizada que tomou conta do governo, em seus mais diversos escalões.

O que está claro e transparente para quem enxerga razoavelmente são as manobras visando a perpetuação no poder, a qualquer custo. Por qualquer custo quero dizer o que estamos pagando de impostos para sustentar um monte de gente à qual não foi ensinada a diferença entre o público e o privado.

Esse governo invoca para si o controle da inflação, a política econômica, a favorável conjuntura internacional que, (entre outros benefícios) favorece as nossas exportações e, consequentemente, o aumento da produção, as novas descobertas de reservas de petróleo e de gás e tudo o mais que tem feito o Brasil viver dias mais tranqüilos. É o segundo milagre econômico, resultante de "reconhecida" capacidade de gestão da coisa pública por um conjunto de pessoas "altamente qualificadas" que o presidente escolheu a dedo. Para não dizer da sua própria qualificação.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 20/04/2008
Reeditado em 29/09/2019
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