Mãe Maria da vida que forrozou

Quando criança, eu queria explodir no mundo, aproveitar a vida da forma que ouvia falar. Quando criança, não tinha idéia que a vida que ouvia falar não era bem a que se vivia. Mesmo assim, sai com sono pelas noites buscando uma paixão. Encontrei pessoas vivendo o sexo, as drogas e o “putz putz”. Me desencontrei nas baladas, persisti naquele mundo que não era meu: se ao menos fosse rock’n roll!

Prossegui na busca pelo sentido de viver, que para mim nunca foi a rotina trabalhadora de horários comerciais, sempre soube que havia algo nas entrelinhas e procurei. Foi quando ouvi falar num certo forró, que eu não me atreveria. Sempre fui tímida, ruim de trejeitos e de expressões corporais. “-Me peça para dançar na escrita que até rebolo, mas dançar forró, não!

A inovação seria no Via Funchal, em São Paulo. Me lembro de um grande palco em forma de arena, onde os músicos estariam no lugar dos mitos e sacrifícios. Entre os largos degraus estavam os bailarinos e forrozeiros, o público baladeiro daquele espaço, esperando a orquestra. Foi anunciado o vôo do Circuladô de Fulô, Edu Ribeiro partira para o reggae. Eu só observava a confusão forrozada sem entender nada.

A salvação daquela noite estaria nas mãos daqueles que também salvariam todas as outras noites do meu caminhar. A irritação do público se misturava com uma empolgada gritaria pedindo o som, todos eram viciados pelo bem estar que eu ainda descobriria. Os compassos começaram e, no escuro total, eu enxergava estrelinhas coloridas de meditação. Suspeitei: “ - Encontrei, encontrei a paixão!”.

Um Bando de Maria entrou vozeirando e estremecendo as paredes, o teto e o chão. Uma explosão de vida liderava uma vontade, a de estar ali. Foi quando eu nasci para o encontrado, para a melhor sensação, para a satisfação total dos sentidos e de ser. Meus pés sentiam a vibração daquela acústica que zombava da arquitetura, descobri que o balanço contagiante do imóvel é quem faz o forrozeiro dançar. Dancei para sempre!

(Não há motivo maior para aceitar a alienação da massa. Porque o caminho tem que ser a grande mídia? Não se vejam pequenininhos diante dos milhões, olhem para dentro de si e se vejam como gigantes.

Façam shows todos os dias, que o público do forró estará lá para prosperar o Bando e as bandas. Relaxe porque o mercado vende apenas o que faz mal para a pele.

E lembre-se, um público apenas, um ouvido só, é a elevação do artista.

Desde quando, os primeiros talentos precisavam do mercado? Ainda porque ele é conseqüência e não caminho. Deixa esse mercado para lá e vamos à feira livre!)

Poeta Vane Kolyn
Enviado por Poeta Vane Kolyn em 20/04/2008
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