Pequeno grande início

Grandes oportunidades já não existem mais, muito menos “muitas” oportunidades. O que existe atualmente é a sorte. Antigamente, a sorte não era tão necessária, as coisas eram mais fáceis e a vida não pregava tanta peça nos profissionais.

Ricardo Kotscho, jornalista e eterno assessor de imprensa do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, é um exímio exemplo da facilidade que era entrar em um grande veículo de comunicação na década de 70 e, até mesmo, na de 80.

Ele mesmo mostrou isso em seu livro Do golpe ao Planalto: uma vida de repórter . Quando ainda era um simples estudante de jornalismo, conseguiu, por meio de um bilhete escrito à mão por um parente, entrar no O Estado de S. Paulo. Não há como duvidar de sua competência e seu talento, no entanto, não há também como duvidar que não houve tanto suor para começar na área.

Mesmo não concluindo a faculdade de jornalismo, Kotscho é realmente um dos grandes nomes da comunicação brasileira. E ele não precisou escrever isto no livro nem se vangloriar em suas declarações, basta apenas olhar para o Planalto e ver que está lá, num cargo de extrema confiança.

O diploma não está em jogo, nem o nome do jornalista, mas sim as reais oportunidades que são oferecidas hoje tanto para um jornalista quanto para qualquer outra profissão. Duvido que se algum vendedor que tenha tido contato como um chefão de alguma empresa seja uma ponte para a entrada de alguém no mercado de trabalho. No caso de Kotscho sim.

Reforço que não estou tirando o mérito dele, mas sim continuo relatando que ele não teve nenhuma dificuldade em entrar no mercado de trabalho e fazer uma carreira de renome no Brasil. Qualquer uma pessoa determinada e honesta que tenha a mesma oportunidade que Ricardo Kotscho teve também poderá escrever um livro e contar sua fantástica e invejável trajetória profissional.

EU TAMBÉM

Lembro-me quando entrei no meio: Acabara de voltar de um free lancer de assessor de imprensa no Guarujá. Trabalhei como se tivesse em uma linha de fogo, totalmente perdido, entretanto, aprendo bastante e tendo boas experiências.

Assim que voltei da “guerra”, tive que produzir matérias para o site da UNIFAE, a faculdade que estudava, e isto foi muito bom. Estava apenas no segundo ano e acabara de fechar uma loja problemática e cheia de dívidas que meu pai me deixara assim que foi passar uma temporada nos EUA.

Enfim. Lá no Guarujá, o professor que estava me acompanhado me disse que um jornal de São João da Boa Vista havia aberto uma vaga de estágio. Não dei muita fé, pois não era na cidade em que morava.

Mas mesmo assim, o coordenador do curso de jornalismo do UNIFAE praticamente me obrigou a pegar a vaga, onde, ainda na faculdade, enquanto eu estava fazendo as matérias do Guarujá, ele me deu um aperto de mão recheado de confiança e me disse: “Bem vindo ao mercado de trabalho!”. Foi inesquecível.

Foi o aperto de mão mais verdadeiro que alguém me dera na minha vida. Aquilo foi quase uma imposição de “vai trabalhar vagabundo”. Enfim, mesmo o salário sendo extremamente baixo e tendo que gastar 40 por cento dele em passagens e alimentação, aceitei e confesso que foi a melhor coisa que já fiz na minha vida.

O jornal era o centenário O MUNICIPIO, um bisemanal que era considerado o maior da cidade de São João da Boa Vista. Minha primeira experiência lá dentro foi como fotógrafo em uma matéria de reclamação de bairro, que não me falhe a memória, era sobre a falta de sinalização próxima a uma escola. Para minha surpresa, a foto saiu como manchete principal na capa.

Minha primeira matéria foi sobre os calotes nos cartões de créditos e cheques especiais. Uma página inteira que me rendeu bons elogios. Tive muitos erros, muitas broncas do diretor e, por incrível que pareça, muitas reportagens especiais que, com certeza, ficaram nos anais de minha memória.

Consegui conciliar ainda um bico na televisão da minha cidade. Então, na parte da manhã era na tv, à tarde viagem de uma hora até chegar no jornal O MUNICIPIO e à noite, faculdade. Foi cansativo, mas foi a melhor experiência que tive até hoje em minha vida.

Atualmente trabalho em uma assessoria de imprensa em São Paulo, mas garanto que ainda tenho muito a contar sobre minha vida profissional, assim como Ricardo Kotscho, se Deus quiser e eu também.

Diego Mendes
Enviado por Diego Mendes em 23/04/2008
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