MEUS TEMPOS DE REPÓRTER

Em meados de março escrevi alguma coisa sobre os meus tempos de rádio. Vários leitores escreveram perguntando como me tornei radialista. Isso aconteceu no final de junho de sessenta e sete quando comecei a freqüentar a Rádio Piratininga, onde já possuía amigos. Surgiu, então, a idéia de elaborar uma crônica para o noticiário do hoje doutor José Aparecido Capobianco, que era líder de audiência em toda a região, numa época em que a cidade fervia com sérias disputas políticas. O gerente da emissora, José Augusto Silveira de Vasconcelos gostou e fez o convite para que comandasse uma atração que se chamou “Desfile Social”, apresentado diariamente às doze e trinta. Foi assim que virei repórter também. O programa ficou no ar cinco anos. Lá eu falava de aniversários, acontecimentos sociais e, evidentemente, havia a crônica do dia, geralmente acompanhada por um fundo musical, próprio para agradar as meninas, mas que acabava fazendo sucesso com as senhoras.

O hoje bem sucedido jornalista Adilson Ortigoza era, então, o chefe do escritório da rádio. Mas também gostava do microfone. Ficamos amigos e, um dia, já no final de sessenta e sete, tivemos a idéia de gravar o casamento de um conhecido, na Matriz do Patrocínio. Apesar da tarde ensolarada e calorenta, lá fomos nós, carregando o gravador de rolo Akai, para registrar o acontecimento. Na segunda feira, trechos da cerimônia foram ao ar. Foi um sucesso! Choveram convites. Às vezes, eram três ou quatro por final de semana. Eu e o Adilson descobrimos, então, como descolar uma festa, quase todos os sábados. Além disso, podia-se fazer sucesso com as meninas. E como fazia. Naqueles tempos sérios, quando era preciso ir falar com o pai da menina, já era possível algumas escapadelas, sem maiores compromissos. E com os amassos, evidentemente. Uma vez. Só uma vez pintou uma paixão. Foi difícil sair dela. Matrimônio era uma coisa fora de questão.

O único desses casamentos, registrados em fitas magnéticas de rolo, existente até hoje, é o do casal Carlota e José de Oliveira. Eles mandaram prensar em disco de acetato e conservam como lembrança até hoje. Claro que outros aconteceram e alguns roteiros estão conservados numa velha pasta A.Z. que fui consultar outro dia. Infelizmente, não convém cita-los. Algumas pessoas já se foram deste mundo, deixando em seu lugar muitas saudades. Outros, infelizmente, se desfizeram por uma dessas ironias do destino.

Naqueles idos, há quarenta anos, as cerimônias nupciais, em sua grande maioria, aconteciam na Matriz do Patrocínio, justamente por causa do seu longo corredor, o que proporcionava às noivas a oportunidade de desfilar seus vestidos e sonhos. Alguns, anos depois, se transformaram em tristes realidades. Além disso, é claro, existia a magnitude do grande órgão da igreja, habilmente executado pelas mãos privilegiadas da sempre inesquecível dona Ofélia Toffano Scortecci. Ao final das cerimônias, depois da saída dos noivos, ela colocava toda a emoção para fora. Era emocionante! Com sua habilidade, fazia desfilar melodias que já nem são mais ouvidas, como “Narciso” ou “O Rosário”, obras esquecidas do americano Ethelbert Nevin. Também não existiam os batuques que transformam as cerimônias em espetáculos, com direito a tudo, menos oração. Coisa dos tempos atuais. Afinal, existe a concorrência, coisa que naqueles tempos não havia.

Acredito que o velho instrumento, totalmente reformado, quase já nem é mais utilizado. Como muita coisa narrada neste espaço, o modernismo se encarregou de modificar. Restaram, contudo, velhos rascunhos, páginas elaboradas nas antigas máquinas de escrever. Ou, ainda, imagens já amareladas que ficaram lá no fundo da memória e que, pouco a pouco, com a passagem dos anos, vão se apagando. Detalhes daquilo que foram os “meus tempos de repórter...”