Sem atrativos para o amor

Confesso que por muito tempo, o fato de não ser o cara do tipo atraente me incomodou. O pior é que não há, nem nunca houve, qualquer possibilidade de minhas feições despertarem algum tipo de encanto no mundo feminino. Mas, graças à herança genética também não sou nenhum tipo horrendo que chega a espantar o sexo frágil (faz-me rir) para longe. Breves esclarecimentos que poderiam colocar por água abaixo a motivação destes escritos, mas o apelo é para a classe sem atrativos – fazendo uma ressalva também a minha má sorte.

Imaginem, prezados leitores, o martírio que é a vida social para um pobre rapaz, um jovem aos 16, 17 anos de idade, tendo que conviver com sua feiúra. Agora, vejam este mesmo garoto sem saber jogar bola, sem grana e ainda por cima sem conseguir articular uma frase sem gaguejar – sim, porque o coitadinho vai ser tão sequelado que na primeira chance de convidar aquela linda para sair vai levar um bolo memorável e ficar traumatizado para sempre.

Minha situação é quase essa, a diferença, e eu agradeço aos livros que li e aos filmes que assisti, é que consigo desenvolver uma conversa de forma levemente interessante. Ademais, acho que se não desenvolvesse a lábia, dificilmente teria conseguido dar um beijo em alguma beldade. É simples, conseguir encantar uma menina encantadora – a única que desperta a atenção – só tendo os atrativos como grana, aparência, roupinhas da moda, essas frescuras que atraem algumas frescas (perdão minoria, mas o resto são mesmo umas frescas).

Dia desses um amigo meu estava apaixonado, mas o pobre sequer consegue falar, trabalha para sobreviver, anda de bicicleta (também faço isso, não é depreciativo), usa óculos tipo fundo de garrafa – bueno, uma catástrofe para a patricinha que ele estava tentando impressionar. Logo, tive que tentar fornecer alguns conselhos, ensinar a manha – justo eu que nunca tive manha, o cara que chegava e falava o que sentia, que se desdobra em sentimentos que nem mesmo compreende. Justo eu – o incompreendido. Fiz um esforço, contei como ele deveria agir – como se eu soubesse... Não adiantou, a desgraçada humilhou o cara, disse que ele não ganhava nem o suficiente para pagar o papel higiênico dela (deve ser uma cagona mesmo). Tentei reanimar o cara, só teve um jeito – mas é melhor não revelar como, muita gente não entende por que os homens freqüentam determinados lugares.

Eu gostava, me sentia bem, era só receber um chamado e estava lá. Mas como sou um cara sem atrativos, acabei atraindo uma pessoa por quem me apaixonei, e fiz – sabe-se lá como – ela também sentir o mesmo por mim. Pelo menos foi o que ela disse. E meu amigo agora não tem outra companhia para se mexer e ir para as zonas velhas, arranjei uma amiga sem atrativos para ele.